Capacidade de contágio dos recém-infectados pelo HIV pode ser menor do que se pensava The infectiousness of recently infected people could be lower than previously thought
Pesquisa mostra a necessidade de mudar as estratégias de prevenção à AIDSResearch provides new evidence for the AIDS prevention strategies
14/04/2015Os recém-infectados por HIV podem não transmitir tão facilmente o vírus como se acreditava. É o que aponta uma pesquisa publicada em março no jornal online PLoS Medicine e que pode melhorar as estratégias mundiais de tratamento contra a aids.
De acordo com um dos autores da pesquisa – iniciada em 2013, o pesquisador de pós-doutorado na Universidade do Texas, em Austin, Steve Bellan, a descoberta pode ajudar no direcionamento de recursos na saúde pública para salvar mais vidas Descobrimos que, durante a fase aguda, os infectados não são tão infectantes como se acreditava há anos, disse o Dr. Bellan.
Na fase inicial da contaminação – entre as duas e quatro primeiras semanas, ocorre um quadro conhecido como infecção aguda pelo HIV, quando há elevação rápida da quantidade do vírus no sangue. A criação de anticorpos, que reduz esse índice, só acontece cerca de seis a oito semanas após adquirir a infecção.
A fase aguda às vezes é acompanhada por febre, irritação ou outros sintomas facilmente confundíveis com outras viroses (gripe, mononucleose etc.), e frequentemente passa despercebido. Esse período tinha sido previamente associado ao risco elevado de transmissão sexual do HIV, ainda maior do que o esperado a partir do pico viral.
O estudo conduzido pelo Dr. Bellan e outros pesquisadores foi feito por meio de duas abordagens. A primeira utilizou dados de um trabalho anterior, envolvendo 235 casais heterossexuais de Rakai, Uganda, considerando fatores que haviam sido ignorados. Já a segunda análise estimou o risco de infecção a partir de medições dos níveis de vírus durante toda a fase aguda.
Os autores mediram a infectividade em unidades mensais, calculadas como cada mês de risco que a pessoa sem HIV mantém numa relação sexual com um parceiro infectado (casal sorodiscordante). Essa unidade é chamada de mês-perigo durante a fase crônica, quando a infecciosidade é relativamente constante. Ou seja, após um ano em contato íntimo com um infectado na fase crônica, a pessoa não infectada se expôs a 12 meses-perigo de risco.
Estimativas anteriores apontavam que a fase aguda de HIV produzia um risco de 30-142, isto é, meses-risco a mais, correspondendo a um aumento de risco de 12 vezes durante o primeiro ano após a infecção.
O novo estudo mostrou que, de fato, na fase aguda, o risco da pessoa não infectado de contrair o vírus é maior. No entanto, descobriu-se que esse risco adicional é muito menor: de apenas 8 meses extras de infecciosidade em relação à fase crônica. Isso significa que, após um ano de relações sexuais de um casal sorodiscordante, o parceiro não infectado se expõe a 20 (12+8) meses-perigo de infecção, ao invés dos 12 meses durante a fase crônica – correspondendo a 1.67 vezes (20/12) mais risco durante o primeiro ano após a infecção.
Atualmente, as políticas preventivas tem se concentrado em impedir a disseminação do HIV por meio do tratamento com uso de antirretrovirais, chamados de Tratamento como Prevenção. Contudo, só pode ocorrer o tratamento após o paciente ser testado e diagnosticado, sendo que raramente eles são testados nos primeiros meses após a infecção. Transmissão de indivíduos infectados ainda na fase aguda são, desse modo, difíceis de se prevenir com essa estratégia. Ao demonstrar que pessoas infectadas na fase aguda não são tão infectantes quanto anteriormente acreditado, esse novo estudo mostra que Tratamento como Prevenção pode ter um resultado melhor do que imaginado nessa luta contra o HIV/AIDS.
Those recently infected by the HIV may not transmit viruses as easily as was thought. This is the result of a research published in March in the open access online journal PLoS Medicine, and that could enhance the worldwide AIDS treatment strategies.
According to one of the authors of the study that begun in 2013, the post-PhD researcher from Texas University in Austin, Steve Bellan, the finding could help directing funds for public health to save more lives. We found that, during their acute phase, infected patients are not as highly infectious than was believed for years, said Dr. Bellan.
During the initial infection phase – between the first two and four weeks, a picture known as HIV acute infection takes place, when there is a fast increase in the viral load. The antibody production, that decreases this index, only begins from six to eight weeks after the infection is acquired.
The acute phase is sometimes accompanied by a fever, rash or other symptoms that could be mistaken with other virus diseases (flu, mononucleosis, etc.), and may often pass unnoticed. This period was previously associated with an elevated risk of HIV transmission to sexual partners, even greater that what is expected from the viral peak.
The study conducted by Dr. Bellan and other researchers drew from two approaches. The first used data from an earlier study involving 235 heterosexual couples from Rakai, Uganda, considering factors that were previously dismissed. The second analysis estimated the infection risk from blood levels of HIV virus during all acute phase.
The authors measured infectiousness in monthly units calculated as a month of risk caused by a person without HIV engaging in a sexual relationship with an infected partner (serodiscordant couple). This unit is called hazard-month during the chronic phase, when the infectiousness is relatively constant. I.e. after a year of intimate contact with an infected person in the chronic phase, the uninfected partner is exposed to 12 hazard-months of risk.
Earlier estimates showed that the HIVs acute phase would mean an extra 30-142 extra months of infectiousness, i.e. excess hazard-months, corresponding to as great as a 12-fold (142/12) increase in risk during the first year after infection.
The new study agreed that, in fact, during the acute phase, the risk of the uninfected partner becoming infected is greater. However, it was discovered that this excess risk is much smaller: only 8 extra months of infectiousness compared to the chronic phase. This means that after a year of sexual activity between a serodiscordant couple, the uninfected partner was exposed to 20 (12+8) hazard months of infection, instead of 12 months during the chronic phase—corresponding to 1.67-fold (20/12) increase in risk during the first year after infection.
Currently, prevention policies have focused on preventing HIVs dissemination through treatment with antiretroviral drugs—so-called Treatment as Prevention. However, this treatment can only occur after the patient has been tested and diagnosed, and rarely they are tested in the first months after the infection. Transmission from acutely infected individuals is therefore difficult to prevent with this strategy. By pointing out that acutely infected individuals are not as infectious as previously thought, this study suggests that Treatment as Prevention may have a more positive outlook than previously thought in the fight against HIV/AIDS.…