Notícias

Ebola: Política de “não tocar” marcou epidemiologista em viagem à LibériaEbola: do-not-touch policy touched epidemiologist in trip to Liberia

Risco para a doença na região obriga as pessoas a evitarem contato físico, relata Laura SkripRisk of infection makes people avoid physical contact, reports Laura Skrip

08/12/2014

Dra.

Dra. Laura Skrip pretende aplicar essa nova perspectiva da epidemia em saúde particular e pública no todo para prosseguir os esforços contra o ebola nos EUA e na África Ocidental

A situação grave que vivem as milhões de pessoas que moram na África Ocidental, região com índices altos de contaminação e mortes por Ebola, tem gerado momentos atípicos na região. Segundo a epidemiologista da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, Laura Skrip , que esteve na Libéria, a orientação era evitar o contato físico com outras pessoas. “Antes da viagem, um professor nos disse que jamais seríamos os mesmos após a Libéria. Eu sabia que ele estava certo. Contudo, eu não poderia imaginar a magnitude da mudança”, afirmou Skrip.

Veja, abaixo, um relato da especialista sobra estada no país com o maior número de casos de Ebola no atual surto da doença.

No início de setembro, surgiu uma oportunidade para que eu e outro aluno de doutorado viajássemos para Monróvia para apoiar o Ministério da Saúde e Assistência Social da Libéria (MoHSW) com necessidades de gestão de informação. Nós somos estudantes do Centro de Modelagem e Análise de Doenças Infecciosas da Universidade de Yale e nosso grupo estava cooperando com o MoHSW em diversos projetos relacionados ao Ebola. Minha única hesitação inicial era o fato de não ter inserido a viagem na minha agenda do início do outono, quando organizava uma corrida de rua de 5 km, era professora assistente e estava em processo de qualificação do meu doutorado. O fato de me dirigir ao epicentro da epidemia de Ebola era uma preocupação secundária para mim. Na verdade, isso se tornou a maior razão para embarcar no avião ao invés de recuar por conta das responsabilidades do dia-a-dia.

Viajar para a Libéria foi uma oportunidade de aprender sobre a epidemiologia e transmissão do vírus Ebola em primeira mão, mas ainda mais importante, era uma chance ajudar a criar políticas de saúde com o objetivo de prevenir milhares de mortes. Afinal, esta meta foi a força por trás da minha decisão de seguir a carreira de saúde pública.

Quando chegamos ao Aeroporto Internacional Roberts, meu colega e eu silenciosamente caminhamos com os grupos de repórteres, profissionais de saúde e negociantes em direção a duas mulheres com máscaras de rosto e outros equipamentos de segurança. Nós ficamos estáticos enquanto elas apontavam máquinas de infravermelho para nossas testas. Essa foi a primeira de pelo menos 100 vezes que nossas temperaturas foram medidas ao longo das 3 semanas e meia em que estivemos no país. A cada vez, o resultado era anotado e grampeado ou colado à nossa roupa, ou então era simplesmente confirmado com um aceno ou sinal com a cabeça. Os termômetros não eram os equipamentos mais precisos, mas ter minha temperatura constantemente monitorada era um aviso para ficar alerta às minhas sensações. Uma febre ou sintomas gastrointestinais eram até esperados numa viagem ao exterior, mas na Libéria, a menor dor seria acompanhada de um intenso surto de ansiedade.

Enquanto quase todas as pessoas do nosso voo para Monróvia deixaram o aeroporto em veículos da Organização das Nações Unidas (ONU) ou da Organização Mundial de Saúde (OMS), nós entramos em um taxi em direção ao nosso hotel. Passava de 1h da manhã e bem após o toque de recolher – uma das medidas do governo era reduzir a transmissão. Após cerca de 20 minutos, nós passávamos pela Unidade de Tratamento de Ebola (UTE) dos Médicos Sem Fronteiras (MSF). As luzes estavam acesas e havia sinais de atividade, mas em geral, parecia que estava tudo “sob controle”. Aquele breve momento à margem da UTE foi de alguma maneira uma síntese de toda nossa experiência no país. Havia uma tensão constante por conta da presença do Ebola, mas além de alguns lembretes universais (p. ex. estações de lavar as mãos, sirenes de ambulâncias e anúncios educacionais na maioria dos outdoors), a epidemia era uma série de eventos isolados dos quais ouvíamos falar, mas raramente víamos. Isso fez sentido para nós como epidemiologistas de doenças infecciosas. Nossas análises dos dados de contato e diagramas da rede de acompanhamento demonstraram que a doença se comportava na Monróvia como se esperaria, baseados em surtos passados. Não havia nada aleatório na transmissão e os casos tendiam a ser bem agrupados.

Durante nossa estada na Libéria, tivemos muitas experiências memoráveis. Meu primeiro encontro com o assistente do Ministro da Saúde, Tolbert Nyenswah, foi uma delas. Tão logo ele se aproximou de mim, eu estendi minha mão para apertar a sua. Ele sorriu discretamente e manteve suas mãos ao lado do corpo lembrando-me da política de “não tocar” – outro comportamento bem disseminado para prevenir a transmissão. Durante toda nossa estada, a política do “não tocar” me manteve alerta de qualquer contato físico acidental. Foi interessante a facilidade com que conscientemente passamos a evitar contato com qualquer outra pessoa. Contudo, isso só foi possível porque todos à nossa volta estavam tão atentos aos seus movimentos e comportamento em geral quanto nós. Quando pousamos de volta nos EUA, passageiros inevitavelmente esfregavam uns nos outros enquanto buscavam suas bagagens de mão. Era difícil reajustar mesmo em relação àquele contato involuntário.

Muitas pessoas têm me pedido para descrever minha experiência na Libéria e a palavra mais apropriada tem sido “intensa”. Nós estávamos completamente conscientes de como passaríamos cada minuto, como nos deslocaríamos entre as pessoas, e como nossas ações e decisões poderiam ter impactos significativos, positivos ou negativos para os outros. Antes da viagem, um professor nos disse que jamais seríamos os mesmos após a Libéria. Eu sabia que ele estava certo. Contudo, eu não poderia imaginar a magnitude da mudança. Hoje eu pretendo aplicar essa nova perspectiva da epidemia em saúde particular e pública no todo para prosseguir os esforços contra o ebola nos EUA e na África Ocidental.

Dra.

Dr. Laura Skrip intends to apply this new epidemiology perspective in individual and public health to follow the efforts against ebola in the USA and West África

The severe situation lived by millions in West Africa, region with high contamination levels and deaths by Ebola, has created unusual moments in the region. According to the epidemiologist from Yale University Laura Skrip , who was in Liberia, the orders were to avoid physical contact with other people. Before the trip, a professor commented we would not be the same after Liberia. I knew then that he would be right. However, I could not have imagined the magnitude of the change, said Skrip.

Find below, a report by the expert about her stay in the country with most number of Ebola cases during this current outbreak.

In early September, an opportunity arose for me and another PhD student to travel to Monrovia to support the Liberian Ministry of Health and Social Welfare (MoHSW) with their IT and data management needs.  We are students at Yale’s Center for Infectious Disease Modeling and Analysis and our group was collaborating with the MoHSW on several Ebola-related projects.  My only initial hesitation was that I had not budgeted travel into my fall schedule of co-organizing a 5K road race, being a teaching assistant, and going through the qualification process of my PhD.  The fact that I would be traveling to a hotspot of the Ebola epidemic was less of a concern to me.  In fact, that became the very reason to board the plane and not to shy away because of any day-to-day responsibilities.

Traveling to Liberia was an opportunity to learn about the epidemiology and transmission of Ebola virus disease firsthand, but even more importantly, it was a chance to contribute to the efforts that involved implementing public health practices with the objective of preventing thousands of deaths.  This goal was the driving force behind my decision to pursue a career in public health after all.

When we arrived at Roberts International Airport, my colleague and I silently walked with the groups of reporters, aid workers, and business people on our flight toward two women clad in facemasks and other personal protective equipment.  We stood still while they aimed infrared machines at our foreheads.  That was the first of at least 100 times during our three and a half weeks in the country that we had our temperatures taken.  Each time, the result would be written down and then stapled or taped to our clothes or it would just acknowledged with a wave and nod.  The thermometers were not the most accurate devices, but constantly having my temperature taken reminded me to stay attuned to the way I was feeling.  A fever or gastrointestinal symptoms were pretty expected when traveling abroad, but in Liberia, even the most benign ache would be accompanied with a spurt of intense anxiety.

While nearly everyone else from our flight to Monrovia rode away in UN or WHO vehicles, the two of us climbed into a cab to head to our hotel.  It was after 1AM and well into the curfew—one of the measures the government was taking to curtail transmission.  About 20 minutes later we were driving past the Médecins Sans Frontières (MSF) Ebola Treatment Unit (ETU).  The lights were on and there were signs of activity within, but overall, it was quiet and felt “under control.”  That brief moment passing by the ETU was somewhat representative of our entire experience in the country.  There was an ominous sense of Ebola being around, but other than a few universal reminders (e.g. the hand-washing stations and ambulance sirens and educational PSAs on most billboards), the epidemic was a series of isolated events that we heard about always but only rarely saw.  This made sense to us as infectious disease epidemiologists.  Our analyses of the contact tracing data and accompanying network diagrams demonstrated that the disease was behaving in Monrovia as would be expected based on past outbreaks.  There was nothing random about transmission and cases tended to be very clustered.

During our stay in Liberia, there were many memorable experiences.  My first encounter with the Assistant Minister of Health, Tolbert Nyenswah, was one of them.  As soon as he approached me I reached out to shake his hand.  He graciously smiled and kept his own hands close to his side while reminding me of Liberia’s “no touch” policy—another widespread behavioral change to prevent transmission.  For the entirety of our stay, the no touch policy made me aware of even the most accidental physical encounter with someone.  It was interesting how easy it became to consciously avoid contact with other people.  However, this was only possible since everyone around us was similarly aware of their movements and general behavior.  Literally as soon as we landed back in the United States, passengers were unavoidably brushing up against one another as they shuffled for their carry-on luggage.  It was difficult readjusting to even that unintentional contact.

Many people have asked me to describe my experience in Liberia and “intense” seems to be the most appropriate word. We were entirely conscious of how we spent every minute, how we moved around other people, and how each of our decisions and actions could have significant implications, positive or negative, for others. Before the trip, a professor within our department commented that we would not be the same after Liberia.  I knew then that he would be right.  However, I could not have imagined the magnitude of the change.  I now look forward to applying my new perspective on the epidemic in particular and public health practice in general to continue working on Ebola efforts in the US and West Africa.