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HIV: vacina em humanos ainda depende de estudos amplos HIV: human vaccine still depends on wide studies

Pesquisadora brasileira participa de estudo que pode apontar soluções a partir do vírus vacinal da febra amarelaBrazilian researcher is part of a study able to point solutions from the yellow fever vaccine vírus

26/08/2014

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Pesquisa desenvolvida por brasileiros e norte-americanos aponta um novo paradigma para a elaboração de uma vacina contra o vírus. Resultados são promissores e aguardados com ansiedade, principalmente pelos povos mais pobres

Cientistas vêm estudando há anos formas de conter o avanço das contaminações por HIV. Atualmente, cerca de 35,3 milhões de pessoas no mundo vivem com o vírus, sendo que 69% desse total estão localizadas na África subsaariana. O problema que afeta principalmente os países tropicais até agora não tem cura e, para ser controlado quanto à disseminação, ainda precisa de mais tempo para apresentar resultados efetivos em humanos.

De acordo com a chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Dra. Myrna Bonaldo , um grande número de testes clínicos vem sendo feito pela comunidade científica. Até o momento, o único que apresentou resultados positivos em humanos foi o do produto RV144 na Tailândia. As primeiras análises  apontaram que cerca de 32% dos participantes vacinados com o RV144 apresentaram um risco menor de serem infectados pelo HIV do que o grupo tratado com um placebo.

Os dados, no entanto, são analisados com cautela, especialmente porque os índices ainda são baixos. “O caso da Tailândia ainda não é suficiente para pensar em abordagem mais generalizada. Uma vez que tenha algum tipo de resultado de sucesso, também seria necessário a aplicação de testes clínicos em populações distintas para ver até que ponto se poderia ter uma vacina abrangente. Qualquer tipo de experiência que seja exitosa só vai ser validada com estudos mais amplos”, afirma a cientista.

Existem 35 testes clínicos para uma vacina contra o HIV em curso em todo o mundo, de acordo com o banco de dados Iniciativa Internacional de Vacinas contra a Aids. No entanto, a criação de um método eficaz de imunidade em humanos é dificultada devido à rápida capacidade de mutação e multiplicação do vírus no organismo. Atualmente, a forma mais eficaz de controle é a terapia antirretroviral, mas a Organização Mundial de Saúde (OMS) calcula que os medicamentos são acessíveis a apenas 27,4% dos infectados.

Pesquisa inovadora

A pesquisadora Myrna Bonaldo é uma das responsáveis por um estudo , desenvolvido por norte-americanos e brasileiros, e publicado em 2012 na Revista Nature, que aponta um novo paradigma para o desenvolvimento de uma vacina contra o vírus. O foco é a célula T CD8, conhecida por eliminar componentes invasores do corpo humano. Esse organismo, segundo a análise apontou, tem a capacidade de matar as células CD4 contaminadas pelo vírus HIV em algumas pessoas. Essa é uma inovação no combate à doença, uma vez que a maior parte das pesquisas é voltada à produção de vacinas com a utilização de anticorpos.

O trabalho tem como base um método patenteado pela Fundação Oswaldo Cruz em 2005 e desenvolvido pela cientista brasileira. O estudo consiste na utilização da vacina contra a febre amarela como uma plataforma na qual se introduz modificações genéticas que poderão imunizar contra outras doenças. “O que estamos tentando ver é se os vírus da febre amarela modificados que criamos têm um bom potencial vacinante. Uma vez que a gente consiga ter algum candidato promissor, nós tentaríamos fazer a mesma abordagem para o HIV”, explica.

As experiências são feitas em macacos rhesus nos Estados Unidos com o pesquisador colaborador David Watkins da Universidade de Miami. Nas espécies utilizadas no estudo, uma parte deles recebeu compostos indutores de produção de células T CD8 protetoras e a outra não. Após, todos os animais foram inoculados com o vírus SIV, que afeta especificamente aos símios e é semelhante ao HIV. Os que receberam os indutores de produção da T CD8 apresentaram redução na replicação do vírus em até 10 vezes, na fase aguda, em relação ao grupo que não recebeu o composto. Os resultados são promissores e aguardados com ansiedade. Principalmente pelos povos dos países mais pobres.

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Research by Brazilian and American scientists points to a new paradigm to elaborate a vaccine against the virus. Results are promising and expected anxiously, especially by the poorest populations

For years scientists have studied ways to contain the advance of the HIV infections. Currently, 35.3 million people worldwide live with the virus, from which 69% are in sub-Saharan Africa. The problem that affects mainly the tropical countries still has no cure and, to have its dissemination controlled, more time is needed to present effective results for humans.

According to the head of the Flavivirus Molecular Biology Laboratory from the Oswaldo Cruz Institute (IOC/Fiocruz), Dr. Myrna Bonaldo , a great number of clinical tests have been conducted by the scientific community. Until now, the only one to show positive results in humans was the product RV133 in Thailand. The first analysis  pointed that about 32% of the participants vaccinated with the RV144 showed a lower risk of infection by the HIV than the placebo group.

The data, however, are analyzed carefully, especially because the indexes are still low. Thailands case is still not enough to think in a more general approach. Once there is any kind of successful case, the application of clinical tests in distinct populations would be necessary to evaluate how extensive the vaccine would be. Any kind of successful experience will only be validated with wider studies, says the scientist.

There are 35 clinical tests in course for a vaccine against HIV in the world, according to data from the International AIDS Vaccine Initiatives (IAVI). However, the creation of an effective method to immunize humans is hampered due to the fast ability of the virus to mutate and multiply in the organism. Currently, the most effective control measure is the antiretroviral therapy, but the World Health Organization (WHO) estimates that the drugs are available to only 27.4% of the infected people.

Innovative research

Researcher Myrna Monaldo is one of those responsible for a study  developed by Brazilians and North-Americans, and published on Nature Magazine in 2012, that points to a new paradigm for the development of a vaccine against the virus. The focus is on the T CD8 cell, known for eliminating invading components from the human body. This organism, as the analysis showed, has the ability to kill HIV infected CD4 cells in some people. This is an innovation fighting the disease, once most of the researches aim to create a vaccine using antibodies.

The work is based on the patented method from 2005 from the Oswaldo Cruz Foundation and developed by the Brazilian scientist. The study consists on using the yellow fever vaccine as a platform in which genetic modifications capable of immunizing against other diseases are inserted. What we are trying to see is if the modified yellow fever virus we have created has a good vaccine potential. Once we have any promising candidate, we could try the same approach for HIV, explains.

The experiences involve Rhesus monkeys in the USA by the collaborating researcher David Watkins from Miami University. Out of the species used in the studies, some received the protecting T CD8 cell production inducer compounds and others not. Then, all the animals were inoculated with the SIV virus, that affects especially the monkeys and is similar to the HIV. Those which received the T CD8 production inducers presented a reduction in the virus replication up to 10 times, in the acute phase, in comparison to the group that did not receive the compound. The results are promising and expected anxiously.  Especially by the poorest populations.