Notícias

Em menos de 20 anos acidentes de trânsito devem matar mais que Aids Traffic accidents will kill more than AIDS in less tha

12/10/2013

Acidentes

Países de renda média concentram 80% das mortes no trânsito, enquanto detêm apenas 52% da frota mundial

Um relatório feito pela Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que em 2030 os acidentes de trânsito vão matar mais do que Aids, malária e outras doenças em países em desenvolvimento. Na avaliação de Paul Nobre, mestre em Engenharia Civil/Concentração, Transportes e Tráfego e analista de Gestão em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz em Pernambuco, a morbimortalidade por acidentes de trânsito será um dos grandes desafios da humanidade. “Sem que haja uma mudança na forma de pensar, com relação à problemática dos acidentes de trânsito, dificilmente serão obtidos resultados significantes”, alerta o especialista da Fiocruz/PE que escreveu o livro: “Violência e morte no trânsito – Associações ignoradas na prevenção dos acidentes de trânsito com motociclistas”. 

Segundo o Relatório da Situação Mundial da Segurança no Trânsito 2013, divulgado pela OMS, os países de renda média concentram 80% das mortes no trânsito, enquanto detêm apenas 52% da frota mundial. O mesmo relatório aponta que no Brasil a mortalidade de motociclistas no período 2007-2010 ultrapassou a de pedestres e de passageiros de automóveis. Conforme o estudo e matéria divulgada na mídia o número de mortes causadas por acidentes de trânsito pelo mundo já chegou a 1,24 milhões.

Para Paul Nobre, as estratégias de prevenção para redução dos acidentes de trânsito até então utilizadas têm priorizado ações comportamentais, tais como: uso do cinto de segurança; capacete para motociclistas; cadeirinha para crianças; taxa de alcoolemia zero e redução da velocidade. “Estes são os cinco pilares de atuação propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU) para a Década de Ação para Segurança no Trânsito 2011-2020. Todas essas ações são importantes, mas criam uma perspectiva falsa, funcionando como obstáculo para se chegar às questões subjacentes e estruturais dos acidentes de trânsito”, analisa ao atentar que as ações precisam ter coerência política, serem intersetoriais e interdisciplinares.

“É sabido que a urbanização acelerada e desordenada provoca danos sociais, econômicos e ambientais que afetam a saúde coletiva. Entretanto, os governantes flexibilizam leis existentes em prol de um suposto desenvolvimento urbano, conforme afirmou Carlos Bernardo Vainer, pesquisador do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ”, comenta o especialista em trânsito. Ele pondera que dessa forma, no urbanismo contemporâneo, o conceito de cidade é reconsiderado e seu espaço é oferecido para o grande capital, quando desaparece o cidadão e surge o homem de negócios.

Países tropicais e acidentes de trânsito
Os países em desenvolvimento representam um grande espaço de trabalho e constituem um desafio à ciência, à cidadania, e a política, assinala Paul Nobre, citando o trabalho dos pesquisadores Aluízio Prata e João Carlos Pinto Dias. Ele explica que a determinação social da saúde, processos de produção e reprodução social fazem com que parte dos habitantes dos países tropicais se torne mais vulnerável a acidentes de trânsito e a violências de todo tipo, além de doenças parasitárias e infecciosas. “Nesses países as desigualdades e iniquidades são enormes”, assinala ao complementar que sem dúvida a má formação de condutores está ligada aos acidentes de trânsito.

Contudo, o especialista assegura que a qualidade da formação não pode ser vista como um fato isolado e cair no senso comum da mídia que reduz tudo ao comportamento dos condutores, o que pode em muitos casos penalizar a vítima e favorecer interesses econômicos. Paul Nobre adverte que o acidente de trânsito não pode ser distanciado da realidade histórica, política, social, cultural, que se vive, tendo em vista que o problema reflete diária e continuamente, os conflitos existentes na sociedade na qual está inserida – a corrupção, a competição, a diferença entre as classes, o consumismo, a ausência de solidariedade, a pouca consciência social e o mínimo senso comunitário.

Corrupção favorece a violência
Embora não se tenha conhecimento de nenhum estudo no Brasil que associe a mortalidade no trânsito à corrupção, no exterior existem publicações que sugerem que a corrupção no setor público desempenha papel significativamente favorável ao crescimento da morbimortalidade no trânsito de um país, de acordo com Paul Nobre.

Segundo Nejat, Mônica e Register em seu artigo, Traffic fatalities and public sector corruption, as atividades corruptas afetam a infraestrutura de transporte; favorecem práticas de condução inadequadas; colaboram para a má formação; e habilitação dos condutores que prejudicam inspeções de segurança e contribuem para um transporte público ineficiente. Corroborando essa ideia, Tyler na sua pesquisa, Why people obey the law, conclui que a maioria das pessoas cumprem a lei, inclusive as de trânsito não porque são ameaçadas, punidas, e sim porque se sentem motivadas para cooperar com as autoridades legais. “Isto tem fundamento nas relações e julgamentos éticos”, realça o especialista ao argumentar que as pessoas têm maiores chances de cumprir as leis percebendo que as autoridades legais são legítimas.

Paul Nobre defende que a corrupção pode ser considerada um indicativo de uma maior falta de confiança na lei. “Logo, uma governança menos legítima resulta em leis menos eficazes, já que reduz a chance das pessoas obedecê-las. O que parece ser o caso no Brasil”, destaca ao salientar que, infelizmente, há quem interprete isto como “doenças normais decorrentes do desenvolvimento ou progresso”.

Acidentes

Countries with average income concentrate 80% of the traffic accidents, while detaining only 52% of the world’s fleet

A World Health Organization (WHO) report points that in 2030 traffic accidents will kill more people that AIDS, malaria and other diseases in developing countries. For Paul Nobre, Master in Civil Engineering/Concentration, Transportation and Traffic and Health Management analyst from the Oswaldo Cruz Foundation (OCF) in Pernambuco, the morbimortality by traffic accidents will be one of the great challenges for humanity. “Unless the way to think about the traffic accidents problematic is changed, hardly relevant results will be achieved”, alerts the specialist from Fiocruz/PE who wrote the book: Violence and Death in Traffic – ignored associations when preventing motorcycle traffic accidents. 

According to the World Traffic Safety Situation Report from 2013, published by the WHO, countries with average income concentrate 80% of the traffic accidents, while detaining only 52% of the world’s fleet. The same report points that in Brazil the deaths of motorcyclists in the period of 2007 – 2010 surpassed the deaths of pedestrians and car passengers sumed. According to the study and to the article published in the media, the number of deaths by traffic accidents in the world has reached 1.24 million.

For Paul Nobre, the prevention strategies in order to reduce the traffic accidents used so far have prioritized behavioral actions, such as: use of seat belts; helmets for motorcyclists; child restraints; zero BAC and speed reduction. “These are the five action pillars proposed by the United Nations Organization (UN) for the Decade of Action for Road Safety 2011-2020. All of these actions are important, but create a false perspective, working as an obstacle to reach the traffic accidents sub adjacent and structural issues” analyzes while pointing that the actions must be politically coherent, inter sectorial and interdisciplinary.

“It is known that accelerated and disordered urbanization leads to social, economic and environmental damages that affect collective health. However, the governors bend the existing laws towards an alleged urban devolpment, as affirmed Carlos Bernardo Vainer, researcher from the Regional Urban Research and Planning Institute, from the Federal University of Rio de Janeiro”, comments the traffic specialist. He balances that this way, in contemporary urbanism, the concept of “city” is reconsidered and its space is offered to the large equity, when the figure of the citizens disappears, giving space to the business men.

Tropical countries and traffic accidents
The developing countries are a large workplace and a great challenge for Science, citizenship and politics, signs Paul Nobre, quoting the work of researchers Aluizio Prata and Joao Carlos Pinto Dias. He explains that heath social determination, production processes and social reproduction make part of the tropical countries inhabitants more vulnerable to traffic accidents and violence of all sorts, besides parasitic and infectious diseases. “In these countries the inequalities and iniquities are huge”, signs while complementing that without a doubt, the driver’s poor training is connected to the traffic accidents.

However, the specialist assures that the driver’s training cannot be seen as an isolated fact and fall into media’s common sense that reduces everything to the driver’s behavior, what in many cases can punish the victim and favor the economic interests. Paul Nobre warns that the traffic accident cannot be separated from the current historical, political, social and cultural reality, meaning the problem reflects daily and continuously, the existing conflicts in the society it’s inserted in – the corruption, competition, differences in social classes, consumerism, lack of solidarity, little social conscience and no community sense whatsoever.

 

Corruption favors violence
Although there is no known brazilian study associating traffic mortality to corruption, there are foreign articles that suggest that corruption in the public sector develops a significantly important role in growing a country’s traffic morbimortality, according to Paul Nobre.

According to Nejat, Monicca and Register, in their article, Traffic fatalities and public sector corruption, the corrupt activites affect transportation infrastructure; favor inadequate driving practices; cooperate with poor training and licensing of drivers that prejudice safety inspections and contribute to an inefficient public transportation. Corroborating this idea, Tyler in his research, Why people obey the law, concludes that most people obey the law, including traffic rules now only because they are threatened, punished, but because they feel motivated to cooperate with the legal authorities. “This is basis for ethical relations and judgements”, highlights while arguing that people have larger chances of obeying the lay once they realize the authorities are legitimate.

Paul Nobre defends that corruption can be considered and indicative of a larger lack of trust in the law. “This way, a less legitimate governance results in less effective laws, once it reduces the chances of people obeying it. This seems to be Brazil’s case”, points while remembering that unfortunately, there are people who see this as “normal diseases resulting from progress or development”.