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Conferência nos EUA avalia progressos e falhas em inovações voltadas para populações negligenciadas Conference in the USA

13/02/2013

Conferência

De todos os produtos que foram aprovados nessa década, somente 4% deles foram dedicados a doenças negligenciadas. Dos 850 produtos aprovados, apenas 37 foram focados para essas doenças

O balanço de uma década das conquistas e desafios focado em iniciativas para as doenças que afetam populações negligenciadas foi o mote da conferência médica “Vidas em Jogo: Disponibilizando inovações médicas para pacientes e populações negligenciados”, promovida pelo Médicos Sem Fronteiras (MSF) e pela Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi, na sigla em inglês) em Nova York, em dezembro.

Para Dr. Eric Stobbaerts, presidente da DNDi, o evento, que contou com transmissão ao vivo pela internet, foi considerado pelos organizadores um momento histórico que permitiu a reunião de vários pesquisadores, instituições de pesquisa e organizações que trabalham em campo com essas doenças – em sua maioria tropicais – para fazer um balanço dos últimos 10 anos.

Questionado sobre o porquê de 10 anos, Dr. Eric explica que o período faz alusão a criação da DNDi, constituída em 2003 pelo MSF. O presidente lembra que em uma reunião realizada em Nova York, naquele ano, foi constatado o que eles intitularam de desequilíbrio fatal. “É um desequilíbrio basicamente do mercado farmacêutico, baseado na ausência de inovação e novos fármacos, ou seja, novos produtos, para as doenças negligenciadas”, esclarece.

Para Carolina Batista, diretora do departamento do MSF Brasil, o encontro serviu para que diversas organizações, a exemplo da Organização Mundial de Saúde (OMS), DNDi, Fundação Bill e Melinda Gates, entre outras, se comprometessem publicamente a fazer o necessário para diminuir a distância entre as necessidades médicas de pessoas negligenciadas e o que existe de disponível para atendê-las. “Acho que nesse sentido demos um passo muito importante, mas ainda há uma longa caminhada pela frente, porque os desafios que enfrentamos em campo tratando os nossos pacientes são enormes. Precisamos de medicamentos melhores, de teste de cura e mais investimentos em pesquisa e desenvolvimento voltados às doenças negligenciadas”, avalia Carolina.

Principais resultados e desafios
Na opinião do Dr. Eric, o grande desafio continua sendo a ausência de recursos e a definição de iniciativas para conseguir soluções. “Fazendo um balanço, vimos que essas doenças têm um orçamento total de investimento no mundo ainda muito baixo e correspondem a menos de 3% das inovações. E sabemos que as doenças negligenciadas, as da pobreza, são aquelas que matam mais”, atenta ao assegurar que o desequilíbrio continua.

Segundo o presidente da DNDi, de todos os produtos que foram aprovados nessa década, somente 4% deles foram dedicados a essas doenças. Dos 850 produtos aprovados, registrados pelo mundo, apenas 37 foram focados para doenças negligenciadas. “Embora o panorama político tenha mudado, o que realmente continua fazendo falta é a concretização e a implementação de programas de pesquisa”, ressalta ao destacar que ainda há muito trabalho pela frente.

Brasil no caminho certo
“No sentido das prioridades, o Brasil vem realmente definindo nos últimos anos quais são as suas grandes orientações de programas de pesquisa, como também os de implementação em nível do Sistema Único de Saúde (SUS)”, pondera Dr. Eric ao acrescentar que o País tem uma definição política bastante precisa e adequada.

Ele admite que os recursos financeiros estão sendo liberados, e adverte que talvez falte, ainda, capacidade de articulação das grandes áreas de excelência existentes no Brasil, no sentido de implementar programas de pesquisa e desenvolvimento, financiando iniciativas criativas, concretizando e disponibilizando produtos finais para a saúde pública.

Investimento em pesquisa e desenvolvimento
Segundo Dr. Eric, países endêmicos, e por outro lado economicamente emergentes, como BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), além do México, Colômbia, Malásia, Tailândia, ainda sofrem muito com as doenças da pobreza e, ao mesmo tempo, têm capacidade econômica que lhes permite uma maior liderança no sentido das definições de prioridades de pesquisas em nível global.

“Isso, talvez, seja uma oportunidade que esse evento em Nova York trouxe para que possamos ter no futuro uma maior liderança dos países do Sul, países endêmicos, com capacidade econômica e científica para liderar os grandes processos internacionais de pesquisa e desenvolvimento”, reflete ao dizer que isso seria uma mudança no panorama global da saúde, ou seja, os países do Sul liderando o que hoje é comandado pelos fortes do hemisfério Norte.

Dr. Eric acredita que seria uma mudança importante. “Falamos bastante sobre isso durante o evento. Achei muito inspirador. Espero continuar, em 2013, um diálogo construtivo no Brasil, com os ministérios da Saúde e de Ciência e Tecnologia, e vermos como a DNDi pode participar e trabalhar de mãos dadas com eles”, declara.

Conferência

Of all the products that have been approved in this decade, only 4% were devoted to neglected diseases. Of the 850 approved, only 37 were focused on these diseases

Weighing up a decade of achievements and challenges focused on initiatives for diseases that affect neglected populations was the motto of the medical conference “Lives at Stake: Providing medical innovations to patients and neglected populations”, sponsored by Doctors Without Borders (MSF) and the Drugs for Neglected Diseases Initiative (DNDi) in New York, in December.

Dr. Eric Stobbaerts, the president of DNDi, believes the organizers of the event, which was broadcast live on the Internet, considered it to be a historical moment that enabled the gathering of several researchers, research institutions and organizations working in the field with these diseases – mostly tropical ones – to take stock of the past 10 years.

Asked why 10 years, Dr. Eric explains that the period relates to the creation of DNDi, formed in 2003 by MSF. He recalls that in a meeting in New York that year, what they labeled a fatal imbalance was noted. “Its basically an imbalance of the pharmaceutical market, based on the lack of innovation and new drugs, or new products for neglected diseases”, he explains.

Carolina Batista, director of the department of MSF Brazil, says the meeting enabled several organizations, such as the World Health Organization (WHO), DNDi, the Bill and Melinda Gates Foundation, among others, to publicly commit to do what is necessary to bridge the gap between the medical needs of neglected people and whats available to treat them. “I think we took a very important step in that direction, but there is still a long road ahead, because the challenges we face in the field treating our patients are enormous. We need better drugs, from tests to cures and more investment in research and development focused on neglected diseases”, says Carolina.

Main results and challenges

In Dr. Eric’s opinion, the biggest challenge is still the absence of resources and definition of initiatives to achieve solutions. “An analysis helped us see that these diseases have a total international investment budget that is still very low and accounts for less than 3% of innovations. And we know that neglected diseases, those of poverty, are those that kill the most” he says, ensuring that the imbalance remains.

According to the DNDi president, of all the products that have been approved this decade, only 4% are dedicated to these diseases. Of the 850 approved products registered worldwide, only 37 focused on neglected diseases. “Although the political landscape has changed, what really lacks is the realization and implementation of research programs”, he says while highlighting that there is still much work ahead.

Brazil on the right track

“In terms of priorities, in recent years Brazil has really been defining its main guidelines of research programs, as well as those of implementation at the level of the Unified Health System (SUS)”, Dr. Eric says. He adds that the country has a fairly accurate and appropriate political definition.

He admits that the funds are being released, and warns that there is perhaps still a lack of coordination between large areas of excellence existing in Brazil, to implement programs of research and development, financing creative initiatives, implementing and delivering final products to the public health system.

Investment in research and development

According to Dr. Eric, endemic and economically emerging countries such as the BRICS (Brazil, Russia, India, China and South Africa), as well as Mexico, Colombia, Malaysia and Thailand, still suffer a lot from diseases of poverty and, at the same time, have the economic capacity to lead the definition of research priorities on a global level.

“Perhaps this is an opportunity that this event in New York brought so we can have in the future a stronger leadership from the Southern countries, endemic countries, with economic and scientific capacity to lead large international processes of research and development”, he ponders while saying that this would be a change in the global panorama of health, or rather, the countries of the South leading what is currently driven by the strong ones of the Northern hemisphere.

Dr. Eric believes it would be a major change. “We talked a lot about this during the event. I found it very inspiring. I hope to continue in 2013, a constructive dialogue in Brazil with the ministries of Health and Science and Technology, and we will see how the DNDi can participate and work hand in hand with them”, he says.