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Dengue: problema que atravessa divisas e fronteiras Dengue: a problem that crosses borders and frontiers

13/02/2013

Dengue:

A solução para dengue passa por mudanças relacionadas à qualidade de vida nas cidades. Problemas de infraestrutura existem no Brasil há muitos anos e o resgate dessa dívida social é uma tarefa de muitos governos

 

O que Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Espírito Santo têm em comum? Acertou quem disse que a triste semelhança está no grande número de casos de dengue registrados já em 2013. Em 27 dias, o Espírito Santo – 3º estado com maior número, atrás de Mato Grosso do Sul e Minas Gerais – registrou 5.325 casos, segundo a Secretaria Estadual de Saúde. Minas Gerais registra mais de 13 mil casos e dois óbitos foram confirmados, sendo um em Uberaba e outro em Buritizeiro. Já em Mato Grosso do Sul, o mês de janeiro foi considerado o pior da história no que diz respeito à epidemia de dengue em Campo Grande. São mais de 15 mil notificações na capital e em todo o estado foram registrados 20 mil casos.

De acordo com o coordenador do Programa Nacional de Controle da Dengue (PNCD), Dr. Giovanini Coelho, esses estados, como a maior parte dos outros, infelizmente possuem condições que garantem essa vulnerabilidade para a transmissão da doença. Que condições são essas? “Infraestrutura, coleta de lixo inadequada, abastecimento irregular de água”, responde o especialista ao atentar que um ambiente propicio – com aumento de temperatura e chuva – favorece a proliferação de mosquito e transmissão da doença.

“Dengue é um problema cuja solução passa por mudanças relacionadas à qualidade de vida nas cidades. Ou seja, elas precisam ter coleta adequada de lixo e um bom abastecimento de água”, observa Dr. Giovanini ao destacar que problemas de infraestrutura existem no Brasil há muitos anos e obviamente o resgate dessa dívida social é uma tarefa de muitos governos, ainda.

Ciente de que a dengue é um problema que não terá solução do dia para a noite, o coordenador do PNCD comenta sobre a importância e a necessidade de articulação do poder público para assegurar ações básicas para minimizar os efeitos de transmissão da doença. “De um lado o trabalho dos agentes e de organização da rede de saúde para atender os pacientes, e de outro, o da população – que tem papel fundamental na adoção de hábitos saudáveis”, aponta ao lembrar que isso é um desafio. Na avaliação do especialista, o grande número de casos registrados já em 2013 não é decorrente de negligência, e sim do próprio campo da mudança de comportamento.

DEN-4

A dengue tipo 4, que voltou a circular no Brasil após 30 anos, não é mais grave que os outros tipos já constados no País, conforme afirma o Ministério da Saúde (MS). A pasta alerta, no entanto, que devido ao longo período em que o vírus da dengue 4 não ocorreu no País, a maior parte dos brasileiros não possui imunidade para este tipo da doença.

Em 2011, a Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais identificou a reintrodução do Sorotipo DEN-4 em seu território. Em nota divulgada no final de janeiro reconhece que “desta forma a maior parte da população com menos de 30 anos está susceptível à infecção pelo vírus.” A circulação do novo sorotipo também preocupa a Secretaria de Saúde do Espírito Santo que atribui o DEN-4 como um dos fatores que contribuem para o aumento dos casos de dengue.

Dengue sem fronteiras

A dengue tipo 4 circula há vários anos em países do Caribe e da América Latina, como a Venezuela, que faz fronteira com o Brasil. Por isso, o Ministério da Saúde admite que era esperado que a doença pudesse reaparecer no território nacional em algum momento.

Isso prova que se engana quem pensa que a dengue reconhece fronteiras. Problema habitual de países tropicais a doença tem causado dor de cabeça também nos EUA. “Eles têm algumas áreas consideradas vulneráveis para a ocorrência de transmissão de dengue, principalmente na região sul devido às condições climáticas e por ser receptiva à presença de viajantes de países endêmicos”, revela Dr. Giovanini. O especialista acrescenta que esses locais registram esporadicamente alguns casos, mas que o país (EUA) não pode ser considerado endêmico para transmissão da doença, e sim, vulnerável à transmissão de dengue.

Mesmo com registros esporádicos, autoridades de saúde já pensam na soltura de wolbachia – método em análise para adoção no Brasil – como uma opção para o combate ao Aedes aegypti. Entretanto, a solução não tem agradado ambientalistas que questionam o impacto ambiental que a soltura desses mosquitos poderia vir a causar.

Wolbachia em cheque

O coordenador do PNCD afirma desconhecer a opinião dos ambientalistas sobre o impacto e qual seria ele. Entretanto assegura que a wolbachia é uma bactéria já presente na natureza. “Ela faz parte do mundo dos mosquitos, mas infelizmente, não existe a wolbachia no aedes”, lamenta ao argumentar que foi comprovado que ela evita a infecção do mosquito pelo vírus da dengue.

“O beneficio que a liberação dos mosquitos com wolbachia traria para a humanidade, tendo em vista que dengue é um gravíssimo problema de saúde pública, seria inestimável. Obviamente, como toda nova tecnologia, digo que precisa ser acompanhada e avaliada. Mas, em uma análise preliminar, entendo que os benefícios seriam muito maiores que eventuais malefícios”, defende ao reafirmar que não conhece nenhum dano descrito dessa natureza.

Dr. Giovanini assinala que essa pesquisa com wolbachia, no Brasil está sendo conduzida pela Fiocruz, com apoio do Ministério da Saúde. “Estamos nos cercando de todos os cuidados necessários para evitar inclusive questionamentos”, ressalta ao adiantar que quando a liberação for feita, há todo um processo a ser cumprido. “Mobilização e esclarecimento da população ainda será feito”, lembra. Segundo o especialista, o grupo de pesquisa no Brasil é da mais alta respeitabilidade. “Todas as medidas e os protocolos éticos estão sendo seguidos”, explica ao realçar que o Brasil ainda testa a eficácia dessa medida para o combate ao Aedes antes de estudar a possível liberação.

Dengue:

The solution to dengue is undergoing changes related to the quality of life in cities. Infrastructure problems have existed in Brazil for many years and the redemption of this social debt is a task for many governments

 

What do Mato Grosso do Sul, Minas Gerais and Espirito Santo have in common? A sad similarity in the large number of dengue cases already reported in 2013. In 27 days, Espírito Santo – the 3rd state with the highest number, behind Mato Grosso do Sul and Minas Gerais – recorded 5,325 cases, according to the State Department of Health. Minas Gerais has recorded more than 13,000 cases and two deaths have been confirmed, in Uberaba and Buritizeiro. In Mato Grosso do Sul, January was considered the worst month in history with regard to the dengue epidemic in Campo Grande. There are more than 15,000 notifications in the capital and across the state 20,000 cases were recorded.

Dr. Giovanini Coelho, the coordinator of the National Dengue Control Program (PNCD), believes that those states, and most of the others, have conditions that make them vulnerable to disease transmission. What are these conditions? “Infrastructure, inadequate garbage collection, irregular water supply”, says the expert who warns that ideal conditions – high temperature and rainfall – favor the proliferation of mosquitoes and disease transmission.

“Dengue is a problem where the solution undergoes changes related to the quality of life in cities. That is, they need to have proper garbage collection and a good water supply”, notes Dr. Giovanini while emphasizing that infrastructure problems have existed in Brazil for many years and obviously the redemption of this social debt is a task for many governments.

Dr. Giovanni is aware that dengue is a problem that will not be solved overnight and comments on the importance and need for articulation of government to ensure basic actions to minimize the effects of disease transmission. “On the one hand the work of the agents and the organization of the health network to treat patients, and on the other, that of the population – which plays a fundamental role in the adoption of healthy habits”, he says while remembering that this is a challenge. In the expert’s evaluation, the large number of cases already recorded in 2013 is not due to negligence, but the very field of behavior change.

DEN-4
Dengue type 4, which began to circulate again in Brazil after 30 years, is no more severe than other types previously observed in the country, as stated by the Ministry of Health (MOH). The ministry warns, however, that because of the long period in which dengue virus 4 has not occurred in Brazil, most Brazilians are not immune to this type of the disease.

In 2011, the Ministry of Health of Minas Gerais identified the reintroduction of serotype DEN-4 in its territory. In a statement issued in late January it recognizes that “the majority of the population under 30 years is susceptible to infection by the virus”. The circulation of the new serotype also worries the Health Department of Espirito Santo, which attributes DEN-4 as one of the factors contributing to the increase in dengue cases.

Dengue without borders

Dengue type 4 has been circulating for several years in the Caribbean and Latin American countries, such as Venezuela, which borders Brazil. Therefore, the Ministry of Health admits that it was expected that the disease could reappear in the country at some point.

This proves that it is a mistake to think that dengue respects borders. A usual problem for tropical countries, the disease has also caused headaches in the United States. “They have some areas considered vulnerable to the occurrence of dengue transmission, mainly in the Southern region due to climatic conditions and the presence of travelers from endemic countries”, says Dr. Giovanini. The expert adds that despite the fact that these locations sporadically record some cases, they cannot be considered endemic, but rather, vulnerable to dengue transmission.

Even with these sporadic reports, health officials are already thinking about releasing wolbachia – a method that Brazil is analyzing – as an option to fight Aedes aegypti. However, the solution has not pleased environmentalists who question the environmental impact that the release of these mosquitoes could eventually cause.

Wolbachia in check

The PNCD coordinator says he is unaware of the opinion of environmentalists on the impact and what it would be. However he ensures that wolbachia bacteria are already present in nature. “It is part of the world of mosquitoes, but unfortunately, there is no wolbachia in aedes”, he argues that it has been proven that it prevents the mosquito from getting infected by the dengue virus.

“Considering that dengue is a serious public health problem, the benefit that the release of mosquitoes with wolbachia would bring to mankind is invaluable. Obviously, like any new technology, it needs to be monitored and evaluated. But, in a preliminary analysis, the benefits were much greater than any disadvantages”, he argues while reaffirming that he does not know of any such damage.

Dr. Giovanini says that this wolbachia research, is being carried out by Fiocruz in Brazil, with Ministry of Health support. “We are taking all necessary precautions”, he says. When they are released, there is a whole procedure that will be followed. The population is going to be informed about the issue”, he says. According to the expert, the research group in Brazil is highly respected. “All measures and ethical protocols are being followed”, he explains while highlighting that Brazil is still testing the effectiveness of this measure to combat Aedes before studying the possible release.