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Colonização europeia aumentou disseminação de parasitoses nas Américas European colonization increased the dissemination of parasitic diseases in the Americas

Apesar de espécies de vermes já existirem na região, condições insalubres auxiliaram a difundir rapidamente doenças entre nativosDespite worm species were already existing in the region, unhealthy conditions favored the fast diffusion of diseases among the native

12/02/2015

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Parasitas intestinais já existiam entre os nativos americanos desde o período pré-histórico. Espécies de vermes dessa época já foram inclusive identificadas em estados brasileiros como Minas Gerais e o Piauí

Já se sabe que boa parte dos povos americanos foi dizimada devido às doenças trazidas por europeus durante o período de colonização, assim como em virtude das epidemias já existentes na região. Agora, um estudo em andamento mostra que a vinda de europeus e de africanos (a grande maioria escravos) ao continente conhecido como “Novo Mundo” também ajudou a disseminar rapidamente parasitoses intestinais que antes não se espalhavam com facilidade.

No período medieval (entre os séculos V e XV d.C.), a Europa era o retrato de muitos países pobres atualmente, com grandes aglomerados de pessoas vivendo em condições sanitárias insalubres. E foi justamente esse o cenário reproduzido pelos europeus nas Américas, o que propiciou a propagação de doenças como ascaridíase, tricuríase e ancilostomíase

“Os europeus começaram a construir por aqui vilas onde as casas eram muito aglomeradas, não existia esgoto e as fezes coletadas por escravos eram despejadas na água, o que causava graves problemas de poluição. Com isso, as parasitoses começaram a se difundir com bastante facilidade, especialmente entre os nativos que passaram a ser confinados nesses ambientes”, detalha o especialista em paleoparasitologia, Dr. Adauto Araujo, um dos responsáveis pelo estudo “Transições paleoepidemiológicas na Europa Medieval e a sua influência na América colonial”, financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)/Ciência sem Fronteiras, que está no terceiro ano e termina no final de 2015.

Dr. Adauto afirma que os parasitos intestinais já existiam entre os nativos americanos desde o período pré-histórico. Espécies de vermes dessa época já foram inclusive identificadas em estados brasileiros como Minas Gerais e o Piauí. “Mas a transmissão dos parasitos era dificultada devido aos hábitos dos índios, que viviam em grupos relativamente pequenos, permaneciam pouco tempo no mesmo local e tinham hábitos de tomar banhos várias vezes ao dia e não usar roupa”, explica o especialista, que é pesquisador titular da Fundação Oswaldo Cruz/Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP), no Rio de Janeiro.

Estudo de doenças em ancestrais

O trabalho desenvolvido pelo Dr. Adauto envolve a área de paleoparasitologia, termo criado em 1978 pelo brasileiro Dr. Luiz Fernando Ferreira. A disciplina estuda a origem e a evolução das doenças por meio dos parasitas encontrados em material arqueológico ou paleontológico, como fósseis de fezes de dinossauros e em múmias do Antigo Egito (século XV a.C.). O objetivo é detectar as raízes de diferentes formas de infecção que afetaram povos ancestrais, auxiliando a descobrir as rotas de transmissão de enfermidades e a evolução das doenças infecciosas até os dias atuais.

O diagnóstico de doenças em populações extintas pode ser baseado em diversos parâmetros, como anormalidades em registros ósseos, tecidos e coprólitos (fezes fossilizadas que servem de fonte para pesquisas que mantêm muitas vezes vestígios físicos ou mesmo moleculares de organismos que estiveram presentes nos intestinos dos indivíduos ou animais).

A paleoparasitologia interessa tanto às ciências da saúde como às ciências humanas – história, arqueologia, antropologia, entre outras. No Rio de Janeiro, a Fiocruz conta com um laboratório dedicado ao tema, que reúne os doutores Luiz Fernando Ferreira e Adauto Araujo, além de uma especialista em ecologia e parasitos de animais silvestres, Drª Márcia Chame; e um panilólogo, que trabalha com pólen e restos de vegetais encontrados nos cóprolitos, Dr. Sérgio Chaves.

“O laboratório também trabalha com alunos, especialmente de graduação e pós-graduação. São eles que examinam os materiais que recebemos de diversas regiões. Por exemplo, um dos últimos artigos que publicamos foi sobre o achado de dois parasitos, que existem até os dias de hoje, em fezes de dinossauros que datam de 240 milhões de anos”, destaca o Dr. Adauto.

Intestinal

Intestinal parasites already existed among the native Americans since the pre-historical period. Worm species from these times have even been identified in Brazilian states as Minas Gerais and Piaui

It has been known that great part of the American populations were destroyed due to diseases brought by Europeans during the colonization period as well as due to some already existing epidemics in the region. Now, a study in progress shows that the immigration of Europeans and Africans (mostly slaves) to the “New World” also contributed to the fast dissemination of intestinal parasitic diseases that before, were not so easily spread.

During the medieval times (between centuries V and XV A.D.), Europe was the scenario of many poor countries of today, with large agglomerates of people living in unhealthy sanitary conditions. And this particular scenario was reproduced by the Europeans in the Americas, what allowed the propagation of diseases as ascariasis, trichuriasis and hookworm.

“The Europeans begun to build villages where the houses were very close one to another, there was no sewage and the feces were collected by slaves and thrown in the water, what caused severe pollution issues. This way, the parasitic diseases were spread very easily, especially among the native populations, who were confined in these environments”, details the paleoparasitology expert, Dr. Adauto Araujo, one of the responsible for the study “Paleoepidemiology transitions in Medieval Europe and its influence in colonial America”, funded by the Coordination of Higher Education Personnel Refinement (CAPES) / Science without Borders and is currently in the third year and should finish by the end of 2015.  

Dr. Adauto affirms that intestinal parasites already existed among the native Americans since the pre-historical period. Worm species from that period have already been identified in Brazilian states as Minas Gerais and Piaui. “However, the transmission of these parasites was troubled due to the Indian population’s habits, who lived in relatively small groups, remained short periods of time in the same place and took several baths during the day, besides not wearing clothes”, explains the expert, who is the head researcher of the Oswaldo Cruz Foundation / Sergio Arouca National School of Public Health (ENSP), in Rio de Janeiro.

Study of diseases in ancestors

Dr. Adauto’s work involves paleoparasitology, a ter created in 1978 by the Brazilian doctor Dr. Luiz Fernando Ferreira. The subject studies the origin and evolution of diseases through parasites found in archaeological or paleontological material, as fossilized dinosaur feces or mummies from Ancient Egypt (century XV B.C). The goal is to detect the origins of different types of infection that affected ancestor populations, assisting to find the transmission routes for diseases transmission and the evolution of infectious diseases until modern times.

Diagnosing diseases in extinct populations can be based in several parameters, as abnormalities in bone, tissue and coprolithes (fossilized feces that are used in research since they keep physical records or even molecular records of organisms that were present in the intestines of individuals or animals).

Paleoparasitology is interest of both health and human sciences – history, archaeology, and anthropology, among others. In Rio de Janeiro, Fiocruz counts with a dedicated laboratory, which gathers Doctors Luiz Fernando Ferreira and Adauto Araujo, besides an ecology and wild animal parasite expert, Dr. Marcia Chame; and a polen and vegetal remains found in coprolithes expert, Dr. Sergio Chaves.

“The laboratory also has students, especially graduate and undergraduate students. They are those who examine the materials that comes from several regions. For example, one of the last articles we published was about two detected parasites, that exist until today, in dinosaur feces aging 240 million years”, highlights Dr. Adauto.