Notícias

Falta de decisão política contribui para ocorrência de leptospiroseLack of political decision favors leptospirosis occurrence Por SBMT | 02/15/2014 22h55

“Todo e qualquer estudo que gera conhecimento científico fazendo relação causal entre um agente, um vetor e uma doença, contribui por sinalizar que tipo de política você deve priorizar”Each and every knowledge-generating study causally relating an agent, a vector and a disease.

18/02/2014

leptospirose-miter

É possível assegurar que países tropicais sofrem mais com a leptospirose. Controle desta doença beneficia também o controle de outras doenças tropicais de transmissão similar

“Todo e qualquer estudo que gera conhecimento científico fazendo relação causal entre um agente, um vetor e uma doença, contribui por sinalizar que tipo de política você deve priorizar”, explica Dr. Mitermayer Galvão dos Reis, pesquisador titular da Fiocruz e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT). Para ele, o estudo publicado no American Journal of Tropical Medicine e Higiene é importante para avaliar os determinantes ambientais e sociais responsáveis pelo aparecimento de certas doenças, como a leptospirose. “É uma doença que depende muito dos fatores ecológicos e sociais: um ambiente que colabora para a presença de ratos e pessoas carentes ou esferas menos privilegiadas da sociedade”, explica.

Presente em todos os países da América Latina, bem como no continente Asiático, principalmente nas Filipinas, Tailândia, China, Índia e África, a leptospirose é problema de saúde pública em vários lugares do mundo. Por que isso ocorre? De acordo com o especialista, a questão deve-se a vários fatores: alterações climáticas; transição demográfica com formação de favelas – devido à rápida migração da zona rural para as metrópoles – com desenvolvimento de comunidades sem saneamento, esgoto, água potável, coleta de lixo, além do baixo nível de educação, pouco acesso à informação e, principalmente, falta de decisão política. “O esforço coletivo entre governo e sociedade pode contribuir para diminuir a incidência da doença, reduzir o número de casos graves”, garante o pesquisador ao antecipar que o controle da leptospirose beneficia também o controle de outras doenças tropicais de transmissão similar.

Dr. Mitermayer assinala que o estudo mostra claramente que quanto mais rato há em um local maior a chance de transmissão de leptospirose. “Se o rato está próximo das casas, se existe esgoto a céu aberto, lixo não coletado – pois no lixo estão presentes restos de alimentos, grande atrativo para ele – o animal vai contaminar o ambiente e não só a água, mas também a lama que fica ali”, adverte.

O especialista lembra o estudo realizado em Salvador/BA, o qual mostrava que a doença era predominantemente transmitida pelo rato. “Atentamos que uma forma de controle seria a coleta de lixo e na época, algumas pessoas questionaram dizendo que na capital soteropolitana era o cão quem transmitia a doença. Entretanto, mostramos, por meio de estudos moleculares que a leptospira, causadora do adoecimento e de morte, era oriunda dos ratos e não de outro animal”, revela o pesquisador da Fiocruz. Ele ressalta que as pessoas mais afetadas pela doença são mais pobres e que moram em áreas desprovidas de saneamento, principalmente, aquelas que vivem em vales onde ocorre acúmulo de água por falta de esgoto, coleta de lixo e controle de roedores. Dr. Mitermayer pondera que a leptospirose só acomete pessoas de maior poder aquisitivo quando estas desenvolvem atividade de lazer, como nadar ou pescar, em águas contaminadas.

Exemplo de descaso
No Brasil, a leptospirose ainda é um grande problema de saúde pública com mais de 12 mil casos por ano, sendo que aproximadamente 10% podem evoluir para a forma grave necessitando de internação.

Na avaliação do presidente da SBMT, é possível assegurar que os países tropicais sofrem mais com a leptospirose, pois muitos não priorizam saneamento, esgoto e coleta de lixo. Ao salientar que a leptospirose é uma doença de população negligenciada, de pessoas com menor nível socioeconômico, ele comenta que no Brasil há casos da doença todo ano. “Em Salvador, por exemplo, ocorre sempre nos mesmos bairros e quando chove é leptospirose certa. Já provamos que existe uma forte ligação entre o índice pluviométrico e a leptospirose”, revela ao apontar que isso reflete a falta de decisão política. O pesquisador alerta ainda para as tocas dos ratos, locais com grande quantidade de bactérias. Ele frisa que em casos de enchentes, a água penetra nessas áreas lavando o ambiente e espalhando a leptospira, o que favorece as epidemias.

Dr. Mitermayer destaca que nos últimos anos, ele e outros pesquisadores trabalharam junto à comunidade Pau da Lima, em Salvador, gerando dados científicos e mostrando pontos com leptospirose. “Locais sem rua ou coleta de lixo, com inúmeros alagamentos, esgoto a céu aberto e muitos ratos”, enumera ao explicar que com base nessas informações a população do bairro preparou um projeto que arrecadou R$ 46 milhões. “O recurso, até onde sei, está parado na CEF”, lamenta ao declarar que a Prefeitura não usou a verba destinada a fazer intervenções naquelas áreas com maior concentração da doença.

leptospirose-miter

It is possible to assure tropical countries suffer more with leptospirosis. Controlling this disease would also favor other tropical diseases of similar transmission control

“Each and every knowledge-generating study causally relating an agent, a vector and a disease, contributes by signing what kind of policy you should prioritize”, explains Dr. Mitermayer Galvao dos Reis, full researcher at Fiocruz and president of the Brazilian Society of Tropical Medicine (BSTM). For him, the study published in the American Journal of Tropical Medicine and Hygiene is important to evaluate the environmental and social determinants of certain diseases, such as leptospirosis. “It is a disease that depends of several ecological and social factors: an environment that favors the presence of rats and poor people or least privileged spheres of the society”, explains.

Present in all countries of South America, as well as in Asia, especially in the Philippines, Thailand, China, India and in Africa, leptospirosis is a public health problem in many places around the world. Why does this happen? According to the specialist, the issue is due to several factors: climate changes; demography transition forming slums – due to the fast migration from rural areas to the metropolis – creating communities without sanitation, sewage, drinking water, garbage disposal services, besides the low education level, poor access to information and, especially, lack of political decision. “The collective effort of the government combined to the society can contribute to decrease the diseases’ incidence, reduce the number of serious cases”, assures the researcher while saying that leptospirosis control also favors the control of other similar transmission tropical diseases.

Dr. Mitermayer notes that the study clearly shows that whenever there are more rats in a place, the greater is the leptospirosis transmission chance. “If the rat is near the houses, if there is open sewage, non-collected garbage – once garbage contains food waste, a great attraction – the animal will contaminate the environment, not only the water, but the mud that will remain there”, adverts.

The specialist reminds of a study conducted in Salvador/BA, that showed the disease was predominantly transmitted by rats. “We noticed that one way of control would be garbage collection and at the time, some people questioned saying in Salvador, the disease was transmitted by dogs. However, we demonstrated, through molecular studies, that the Leptospira, agent of sickening and death, came from rats and not another animal”, reveals the Fiocruz researcher. He highlights that the most affected people are the poorest, living in valleys where water can accumulate for not having sewage, garbage collection and rodent control. Dr. Mitermayer ponders that leptospirosis only strikes upper class people when they develop leisure activities, such as swimming or fishing in contaminated waters.

Neglect examples
In Brazil, leptospirosis is still a major public health issue with over 12 thousand cases per year, and 10% of these cases can evolve to the severe form, when hospitalization is needed.

The BSTM’s president evaluates it is possible to ensure tropical countries suffer more from leptospirosis, once many do not prioritize sanitation, sewage and garbage collection. When pointing that leptospirosis is a neglected population disease, people with lower socio-economic level, he comments that Brazil registers cases all year long. “In Salvador, for example, they occur always in the same neighborhoods and when it rains, leptospirosis is certain. We already proved to be a strong bond between the rain index and leptospirosis”, reveals while pointing that this reveals the lack of political decision. The researcher alerts for rat burrows, places with great amount of bacteria. He stresses that in flood cases, the water enters and wash these places, spreading the Leptospira, favoring epidemics.

Dr. Mitermayer points out that in the last years, him and other researchers worked along with the Pau da Lima community, in Salvador, producing scientific data and showing leptospirosis hotbeds. “Places without streets or garbage collection, numerous flooding areas, open sewage and many rats”, numbers while explaining that based on these informations the neighborhood’s population prepared a project that raised USD 19 million. “The money, as far as I know, is stuck in CEF, a federal bank”, regrets while saying the municipal government did not use the money to make interventions in those areas with greater concentration of the disease.