Notícias

SBMT tem novo presidenteBSTM has a new president

13/08/2013

SBMT

Tentar fortalecer a entidade junto à sociedade em geral também é um dos anseios do novo presidente da SBMT, Dr. Mitermayer Galvão dos Reis

Dr. Mitermayer Galvão dos Reis, mestre em Patologia Humanapela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e doutor em Patologia Humana pela mesma instituição, foi eleito presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), durante o 49º Congresso do órgão, realizado entre os dias 7 e 10 de agosto deste ano em Campo Grande/MS. Ele comandará a Sociedade no biênio 2013-2015, e pretende pautar o mandato com a mesma competência de seu antecessor, Dr. Carlos Costa. 

Dr. Mitermayer já presidiu a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) na Bahia/BA por quatro anos e sabe que pode contar com o apoio de todos os membros da SBMT no trabalho à frente da entidade. Entre suas metas está a criação de uma comissão de ex-organizadores de congressos para a troca de experiências e tomada de decisões a respeito das cidades que podem sediar os futuros encontros. Tentar fortalecer a entidade junto à sociedade em geral também é um dos anseios do Dr. Mitermayer.

SBMT: Fale um pouco sobre sua experiência na área da Medicina Tropical.

MG: Eu tenho trabalhado com Medicina Tropical durante toda minha formação médica. Trabalhei e trabalho em laboratórios, no campo, em áreas endêmicas, principalmente a esquistossomose. Também já trabalhei com leishmaniose e venho trabalhando nas áreas de doença de Chagas, das hepatites, da leptospirose, enfim, tenho tido uma ação bem ativa como cientista em doenças que fazem parte da Medicina Tropical.

Uma coisa nova que tenho feito é trabalhar junto com a comunidade. Curiosamente estamos saindo da favela para uma molécula, um produto. Hoje eu tenho patenteado juntamente com meu colega, o médico Albert Ko, um teste de diagnóstico para a leptospirose que é o primeiro desenvolvido no mundo e estará disponível provavelmente para toda a sociedade. Então, para mim, é uma honra ter sido escolhido pelos meus colegas para presidir a SBMT pelos próximos dois anos. Espero motivar os colegas para que possamos dar continuidade às nossas pesquisas e que consigamos gerar evidências para a tomada de decisões políticas que tenham efeito na área das doenças tropicais.

SBMT: Quais são os projetos que o senhor pretende implantar à frente da SBMT durante seu mandato?

MG: Antes de tudo, é importante ressaltar que na chapa anterior eu atuei na condição de vice-presidente, sendo eleito neste ano presidente da instituição. Obviamente que para mim é uma situação confortável, visto que o Dr. Carlos Costa (ex-presidente) realizou um grande trabalho. Em sua gestão tivemos avanços significativos a começar pela implantação da Revista, que agora é totalmente em inglês e isso nos garantirá um impacto grande a curto e longo prazo. Antes ela era publicada em português e isso limitava o nosso trabalho apenas ao Brasil, daí preferimos publicá-la numa linguagem universal para expandir o campo de leitura das nossas publicações.

Outra coisa importante que passou a ser implantada na gestão anterior, mas um pouco mais técnica, é que nos preocupava o fato de vários de nossos sócios tradicionais estarem deixando de frequentar a nossa Sociedade por questões econômicas ou em virtude de próprio esquecimento. Assim, fizemos uma readequação e agora o pagamento é anual, sendo que os atrasados foram amortizados e tudo voltou ao normal. Entretanto, precisamos avançar em alguns aspectos, como corrigir rotas e impor novas coisas.

O que temos notado é que precisamos fazer um diagnóstico de quais são os sócios que temos hoje e qual a faixa etária deles. A minha impressão é que a maioria está chegando à terceira idade. Sinto falta da presença de sócios mais jovens. Então um dos grandes desafios da minha gestão é buscar associar este público. Outra coisa que precisamos fazer, e que já vinha sendo feita na gestão do Dr. Carlos, é incentivar a participação, como sócios, de indivíduos de outras áreas. E aí, diante da compreensão, de como os problemas devem ser enfrentados, utilizando ferramentas multidisciplinares, tendo uma ação transdisciplinar, precisamos ter jornalistas, por exemplo, como sócios.

Hoje, temos uma compreensão de que os problemas na área da saúde têm uma ligação com a saúde animal, já que muitas vezes há doenças que vêm do animal para o homem e por isso precisamos ter essa visão. Existe também uma compreensão de que as doenças têm um componente muito forte de determinantes ecológicos sociais, e por isso, precisamos realmente estimular a entrada de sócios, não só das áreas afins, mas também de outras, a exemplo das Engenharias, das Humanas, e assim atrair novos membros para que possamos fazer um enfrentamento de uma maneira diferente do tradicional em relação à Medicina Tropical.

A grande maioria das doenças que enfrentamos na atualidade depende de saneamento, de esgoto, de água, bem como de uma coleta de lixo adequada, de educação, de informação e de indivíduos que sejam capazes de entender o que realmente está ocorrendo.

Outra coisa que pretendemos fazer é consolidar o que já está sendo feito junto às diferentes esferas de governos federal, estadual, municipal, sociedades civis não organizadas, de forma que possamos trabalhar juntos, de maneira integrada, e também procurando de alguma maneira influenciar, gerando informações científicas que possam garantir a tomada de decisões políticas.

SBMT: Então, como o senhor já ressaltou, hoje, algumas das maiores carências da SBMT são a falta da participação de jovens e de profissionais de outras áreas?

MG: Temos que ter mais jovens entre os nossos associados. Se diversificarmos, nossos congressos futuros poderão também contar a participação de profissionais não só das áreas biomédicas, como também de pessoas que trabalham com água, esgoto, avaliação do ambiente, além das áreas de Humanas, as que trabalham com indicadores sociais, da economia, para atuar no campo das avaliações e custos.

Por outro lado também temos que atrair aquelas pessoas que trabalham com a área da inovação tecnológica, que sejam capazes de fazer pesquisas de mercado e que nos digam um pouco sobre o desenvolvimento de determinado teste, se vai ser possível ou não, bem como o de determinada vacina.

SBMT: Qual pesquisa a SBMT pretende realizar futuramente?

MG: Nós temos grandes desafios sem sombra de dúvidas. Por exemplo, quando você pensa na sociedade, na questão de percepção, o que vêm à nossa mente, à frente da Sociedade, são as vacinas. Então, temos grandes desafios em relação a elas. Agora, está na ordem do dia a vacina contra dengue. Quatro empresas multinacionais tentando desenvolver uma vacina contra a dengue. Infelizmente não temos essa vacina, então isso é muito importante.

Também é fundamental que a SBMT estimule atividades que possam revelar metodologias e diagnósticos para o campo da epidemiologia molecular. Além disso, podemos desenvolver ações que possam dar informações precisas sobre quais componentes precisamos ter em uma vacina. Por isso, é necessário fazer estudos que nos permitam demonstrar de uma maneira precisa que carecemos de tal vacina. Do contrário, podemos colocar uma vacina encarecendo mais os custos para o sistema de saúde, não necessária para aquele dado momento.

Então, por outro lado você tem essa ação que pode, por exemplo, também avaliar o que é necessário. Vamos prover informações, definir o que precisamos para garantir a soberania brasileira. Por outro, nós também poderemos ter ações que possam validar aquilo que foi desenvolvido.

Outra coisa importante na Medicina Tropical é o fato de sempre estarmos gerando informações sobre prevalência, incidência, intervenções e tratamento. Mas falta ainda fazermos uma coisa: desenvolver. Se olharmos a totalidade dos medicamentos, das vacinas e dos testes de diagnósticos, todos são produzidos fora do nosso País. Então, por meio da SBMT, precisamos motivar os profissionais do Brasil a inovar. Temos um déficit enorme na balança comercial, pois compramos quase tudo. Logo, precisamos fazer provocações nas academias e universidades, nos institutos de pesquisa, em especial no governo, para que garantam recursos e que estimulem as pesquisas.

É necessário ter as doenças tropicais que nos afligem como desafio, assim poderemos inovar e dar conta daquilo que precisamos, com qualidade, para que possamos vender e gerar divisa para o nosso País. Além disso, precisamos estimular os biomarcadores – moléculas que mostram se a pessoa tem ou não um risco de adoecer – pois são eles que dizem como o paciente irá progredir com uma doença, que medem se as pessoas estão respondendo bem ou não a uma terapia.

Em síntese, minha ideia é que consigamos, por meio da SBMT, tentar influenciar para que tenhamos atividades programadas nas áreas de epidemiologia molecular que sirvam para avaliar o que precisa ser feito e o que foi desenvolvido. Que possamos estimular o estudo da imunopatogenese de todas essas doenças para identificar biomarcadores de risco, de progressão de doenças, de monitoramento, de respostas terapêuticas. Por outro lado, precisamos estimular ações para que tenhamos incremento tecnológico para que desenvolvamos nossos produtos no sentido de desonerar o Estado brasileiro das compras, e assim gerar produtos que possam ser vendidos para fora e que tragam riquezas para o nosso País.

SBMT: Em sua opinião, a área da Medicina Tropical deveria ser uma prioridade do governo brasileiro?

MG: Exatamente. Precisamos estimular o governo e procurar fazer isso de maneira organizada. Temos discutido muito hoje o fato de que às vezes, na área da medicina propriamente dita, existem determinadas ações que são propostas e que se procura implementar via Ministério da Saúde , mas que o Ministério da Educação não tem conhecimento. Por outro lado, é o Ministério da Educação o responsável pela formação de médicos, de biólogos, de veterinários, de todos esses indivíduos. Então, temos que sentar juntos, para fazermos estudos de viabilidade econômica, até para nos orientamos sobre como proceder para conseguirmos algo viável economicamente. Se desenvolvermos algo, por mais que seja eficaz, mas inviável economicamente, a tendência é que ele não seja utilizado.

SBMT: Para finalizar, gostaria que o senhor fizesse um balanço sobre o 49º Congresso de Medicina Tropical realizadoem Campo Grande.

MG: Nada melhor que fazer uma avaliação externa. Então, uma avaliação dos participantes dos quatro continentes, que estiveram presentes nos quatro dias de evento, foi de contentamento em relação à qualidade da programação científica e das apresentações.

Queremos externar, ainda, a felicidade de nós brasileiros estarmos em uma cidade como Campo Grande, planejada, bonita, que tem uma mobilidade muito boa. Isso encantou sobremaneira as pessoas que participaram do Congresso.

O nosso próximo evento será no Acre e isso significa um desafio para nós. Ao realizarmos um Congresso lá, a SBMT está demonstrando que quer ter ações em todos os estados da União e fazer chegar o conhecimento em áreas muito longínquas, de forma tal a socializar o conhecimento que temos. Provavelmente esse evento ocorrerá no início do segundo semestre de 2014, e em 2015 será em Fortaleza, no Ceará.

SBMT

Trying to strengthen the entity along with the society is one of the goals of the new president of the BSTM, Dr. Mitermayer Galvão dos Reis.

Dr. Mitermayer Galvão dos Reis holds a master in Human Pathology from the Bahia Federal University and doctor in Human Pathology from the same institution, was elected president of the Brazilian Society of Tropical Medicine (BSTM) during the 49th Congress of the institution, which took place from August 7th to 10th 2013 in Campo Grande / MS. He will lead the society during the biennium 2013-2015, and aims to guide the society with the same competence as his predecessor, Dr. Carlos Costa. 

Dr. Mitermayer has already been president of the Oswaldo Cruz Foundation (Fiocruz) in Bahia for four years and knows that he can count on the support of each BSTM member while in charge of the society. Among his goals is the creation of an ex-congress organizers commission for experience exchange and decision-making information regarding the cities where future meetings could be held in. Trying to strengthen the entities laces with the general public is also one of Dr. Mitermayers goals.

BSTM: Tell us a little about your experience in the Tropical Medicine field.

 
MG: I have worked with Tropical Medicine for all my medical formation. I have worked and still work in laboratories, in the field, in the endemic areas, especially with schistosomiasis. I have also worked with leishmaniasis and have been working with Chagas disease, hepatitis, leptospirosis, in a way I have been very active as a scientist in diseases which are part of the Tropical Medicine.

A new thing I have been doing is working close to the community. Curiously, we are leaving the slums to a molecule, a product. Today I have a registered patent along with a colleague, Dr. Albert Ko, a leptospirosis diagnosis test, which is the first to be developed in the world and will be available to everybody. This way, for me, it is an honor to have been chosen by my colleagues to preside the BSTM for the next couple of years. I hope to motivate the colleagues in a way to continue our researches and create evidence to support tropical diseases related political decisions.

BSTM: Which are the projects you intend to launch while president of the BSTM?

MG: Before anything, it is important to point out that I was vice-president of the former board, being elected this year as president. Obviously I have a comfortable position, once Dr. Carlos Costa (ex-president) had a great administration. During his management we had relevant advances, starting by the magazine, which is now completely in English and will assure a great impact in short and long terms. Before, it was published in Portuguese, and this limited our work to Brazil, so we decided to publish it in an universal language as a way to expand the reading of our publications.

Another thing that started in the last administration, but a little more technical, is that we were worried about the fact that several of our traditional members were ceasing to attend our Society for economical reasons or even for not remembering. This way, we rearranged ourselves and now payment is made only once a year, being the late ones amortized and now everything is back to normal. Although, we need to advance in some aspects, as fixing routes and imposing new things.

What we have noticed is that we need to find out who are our members and in which age range they are fit in. My impression is that most of us are seniors. I miss the presence of the youngsters. So, one of the great challenges of my administration will be to associate this public. One other thing we must do and that was already been done in Dr. Carlos administration is to encourage the participation, as members, of individuals from other areas. From there, facing the comprehension of how individuals must be faced, using multidisciplinary actions, we must have journalists as members, for example.

Today, we have an understanding that heath problems are close to animal health, since many times the diseases come from the animal to mankind, and we must have this vision. The is as well the comprehension that diseases have a strong ecological and social determinants, and for that, we need to stimulate the admission of new members, on only from related areas, but further ones, such as Engineering, or Human Sciences, and this way attract new members in order to face Tropical Medicine in a different way rather than the traditional one.

The great majority of the diseases we face nowadays depend of sewage, water, adequate garbage disposal, education, information and individuals being able to understand what is actually happening.

Another thing we intend to do is to consolidate what has been done along with the governmental spheres – federal, state and municipal, non-organized civil societies, in a way we could work together, also seeking to influence, create scientific information able to assure the correct political decision-making.

BSTM: So, as you pointed out, today, one of the main deficiencies in the BSTM is the low participation of youngsters and professionals from other areas?

MG: We must have more youngsters among our members. If we diverse, our future congresses can also count on professionals from several fields – rather then only biomedical, such as people who work with water treatment, sewage, environment evaluation, besides Human Sciences, the ones who deal with social indicators and economy,  in order to work the field of evaluations and costs.

On the other hand, we must attract those people who work with technological innovation, able to research the markets and tell us a little about the development of certain test, if it will be possible or not, as well as certain vaccine.

BSTM: What does de BSTM seek to research in the future?

MG: Without a doubt we have great challenges. For example, when you think of the society from the perception point of view, what comes to mind, in charge of the society, are the vaccines. This way, we have great challenges regarding them. Now, we are working on the dengue fever vaccine. Four multinational companies are trying to develop this vaccine. Unfortunately, we still dont have this vaccine, so this is a very important goal.

It is also fundamental fort the BSTM that activities able to reveal methods and diagnosis for the molecular epidemiology field are stimulated. Besides this, we could develop actions to provide more accurate information on which components must be on a vaccine. For that, it is necessary to research in order to prove we need certain vaccine. If not, we could launch a vaccine that would increase costs for the health system, but not needed at the moment.

So, in one other hand you have this action that could, for example, also evaluate what is in fact necessary. We will provide information, define what we need to assure brazilian sovereignty. on the other, we could have actions to validate what has been developed.

One other important thing about Tropical Medicine is the fact that we are always creating information about prevalence, incidence, interventions and treatment. But we still miss one thing: development. If we look at the totality of medications, the vaccines and diagnosis tests, they are all produced outside of our country. So, through the BSTM, we need to motivate brazilian professionals to innovate. We have a huge deficit in our trade balance, since we buy almost everything. Thus, we need to provoke the academies and universities, research institutions, especially the government to allocate funds and stimulate research.

It is necessary to have the tropical diseases that afflict us as a challenge, this way, we can innovate and produce what we need, with quality, so we can sell and create profit for our country. Besides this, we need to stimulate the biomarkers – molecules that can tell us if a person has a risk to fall ill, that measure if an individual is responding as expected to a treatment.

In synthesis, my idea is to, through the BSTM, try to influence in a way to have programmed activities in molecular epidemiology that can be used to evaluate what has been done and what needs to be done. This way, we can stimulate studies in immunopathogenesis of all diseases in order to identify the risk, therapeutic response and disease progression biomarkers. on the other hand, we need to stimulate actions in order to have technological improvement, so we can develop our own products and relieve the government from buying, and this way, generate products that could be exported and bring wealth to our country.

BSTM: In your opinion, should the Tropical Medicine be priority to the Brazilian Government?

MG: Exactly. We need to stimulate the government and aim to do this in an organized way. We have discussed numerous times the fact that sometimes, in medicine, there are some actions proposed by the Health Ministry, but that the Education Ministry is unaware of. on the other hand, it is the Education Ministry who is responsible for graduating doctors, biologists, veterinaries. So, we need to get together and study the economic viability, we need advises on how to act once we have found something economically viable. If we develop something, as much efficient as it can be, but economically unviable, the odds are it wont be used.

BSTM: Finally, could you give us a balance of the 49th Congress of the Brazilian Society of Tropical Medicine in Campo Grande?

MG: Nothing is better than an outsiders evaluation. So, the general opinion from present participants from four continents during the four days, was of satisfaction about the quality of the scientific schedule and the presentations.

We also want to externalize the happiness for us brazilians, to be in a city as Campo Grande, a beautiful planned city, with good mobility. This greatly enchanted the participants.

Our next event will be held in Acre, and this means another challenge for us. By holding the event there, the BSTM is demonstrating the will to act in all states of the Union and taking knowledge to the furthest places, in a way to socialize the knowledge we have. Probably this event will be held in 2014th second semester, and in 2015 it will be in Fortaleza, Ceara.