Notícias

Parasitologia veterinária: jovem brasileiro é condecorado com Prêmio na AustráliaVeterinary Parasitology: 33 years old bra

Os carrapatos e as doenças transmitidas por eles e outros vetores de importância no Brasil e na região Mediterrânea foram temas principais da pesquisaTicks and the diseases transmitted by them are among the main pet and production animals health issues, both in South America and in the Mediterranean regions

12/09/2013

Jovem

Apesar da pouca idade do autor, sua pesquisa desafiou antigos conceitos no campo da entomologia

 

“Desde pequeno interessava-me por insetos, aves, peixes e outros tipos menos convencionais, como ratos. Gostava de observar o comportamento e a biologia desses animais”, confessa o bolsista da Fiocruz Pernambuco Filipe Dantas-Torres, a quem foi conferido o Prêmio Peter Nansen Jovem Cientista 2013. A condecoração ocorreu durante a XXIV Conferência Internacional da Associação Mundial para o Avanço da Parasitologia Veterinária (WAAVP), realizada de 25 a 29 de agosto em Perth (Austrália).

Primeiro sul-americano a ganhar essa honraria, Filipe acredita que a conquista incentivará outros jovens pesquisadores a buscar novos objetivos. Aos 33 anos, ele também é o segundo mais jovem pesquisador a receber o Peter Nansen. “O Prêmio é o reconhecimento ao trabalho em grupo e ao amor à pesquisa. Não significa que cheguei a lugar algum, mas certamente sugere esta é a estrada justa. Ela pode nos levar a novas descobertas sobre os chamados parasitas, pequenas criaturas que continuam a ceifar a vida de milhares de pessoas e animais todos os anos, particularmente em regiões tropicais e subtropicais”, assinala.

Filipe reconhece que no Brasil são realizadas pesquisas de qualidade, mas muitas vezes permanecem no anonimato no âmbito internacional. Geralmente, isso se deve a limitações da língua, pois ainda nos dias de hoje poucos pesquisadores falam e escrevem em inglês, língua oficial da ciência. “Outras vezes, nós brasileiros, achamos que é impossível alcançar outros patamares”, aponta ao afirmar que de fato, muitas coisas se julgam impossíveis de serem feitas enquanto não feitas.

A premiação de Filipe é uma prova de que tudo depende da vontade e dedicação de cada um, mas, sobretudo da capacidade de trabalhar em grupo. “As parcerias nos enriquecem como pesquisadores e como pessoas, além de permitir a otimização de recursos naturais, humanos e financeiros”, ressalta ao lamentar que infelizmente, muitos pesquisadores não estão preparados para o trabalho em grupo e que é preciso mudar isso. “Acredito que a minha premiação incentivará os jovens pesquisadores a estabelecer novas parcerias nacionais e internacionais”, aposta.

Como tudo começou
Médico veterinário de formação, Filipe explica que a escolha do tema surgiu porque os carrapatos e as doenças transmitidas por eles estão entre os principais problemas de saúde de animais de companhia e de produção, tanto na América do Sul quanto na região Mediterrânea. Além disso, várias doenças humanas graves, como a doença de Lyme e a febre maculosa das Montanhas Rochosas são transmitidas por eles. “O interesse pelo tema surgiu naturalmente quando ainda era um estudante de medicina veterinária na Universidade Federal Rural de Pernambuco”, completa.

Durante esses anos, o jovem cientista teve a oportunidade de desenvolver projetos de pesquisas em vários países, como Brasil, Itália, França, Portugal, Grécia e Rússia. “Nossos projetos – de todos que fazem parte do grupo de pesquisa – são dedicados a estudar a taxonomia, biologia e ecologia de vários artrópodes, como carrapatos, mosquitos e flebotomíneos, na busca de conhecê-los para melhor controlá-los. Trabalhamos também no desenvolvimento de novos métodos para diagnóstico, tratamento e controle de doenças transmitidas por vetores, como leishmaniose e dirofilariose”, salienta ao frisar que o objetivo é o desenvolvimento científico e tecnológico nessa área, sempre buscando, na medida do possível, traduzir os resultados em produtos ou práticas tangíveis.

Para o comitê organizador, apesar da pouca idade do autor, sua pesquisa desafiou antigos conceitos no campo da entomologia. Para Filipe, muitos conceitos gerados em períodos onde a disponibilidade de técnicas era muito limitada – se compararmos aos dias de hoje – têm sido confirmados por pesquisas mais recentes. Por outro lado, algumas verdades absolutas têm sido derrubadas, simplesmente pela realização de novas pesquisas em áreas ainda não exploradas ou pelo uso de técnicas modernas. “Por exemplo, estudos realizados no Brasil em parceria com colegas da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e da Universidade de São Paulo (USP), demonstraram que um carrapato de jibóias chamado Amblyomma fuscum, que por muito tempo era considerado raro na América do Sul, na verdade, é bastante comum”, assinala ao dizer que o problema é que as formas imaturas desses carrapatos não parasitam jibóias, mas sim pequenos mamíferos (Dantas-Torres et al., 2012).

Filipe cita outro exemplo. Estudos recentes realizados na Universidade de Bari, na Itália, demonstraram que os carrapatos de cães de vários países do mundo que eram geralmente atribuídos a espécie Rhipicephalus sanguineus, na verdade pertencem a espécies morfologicamente e geneticamente distintas (Dantas-Torres et al., 2013). Segundo ele, foi comprovado que mesmo em um país pequeno como a Itália, os cães podem ser infestados por pelo menos três espécies distintas que até então eram identificadas como “Rhipicephalus sanguineus”.

Um pouco de estória e de história da Medicina Tropical
O médico veterinário lembra que a pesquisa científica o conduziu a numerosas partes do mundo, a conhecer pessoas extraordinárias, a viver aventuras e expedições inesquecíveis para um homem. “Um exemplo foi o encontro com a Dra. Odile Bain, pesquisadora do Museu de História Natural de Paris. Essa grande cientista nos guiou em uma expedição em Xanthi, na Grécia, nos confins com a Turquia, na busca pelo vetor de Onchocerca lupi, um parasita emergente de cães que pode acometer outros animais, inclusive os seres humanos (Otranto et al., 2012).

Para o jovem cientista, a Medicina Tropical é história e tradição. Significa Osvaldo Gonçalves Cruz; Carlos Justiniano Ribeiro Chagas; Leônidas de Mello Deane; Henrique de Beaurepaire Rohan Aragão e tantos outros que dedicaram suas vidas à saúde nos trópicos e que ajudaram a escrever a história da Medicina Tropical no Brasil e no mundo. Mas acima de tudo, significa: futuro. “Devemos trabalhar em prol da saúde das pessoas que vivem em regiões tropicais e subtropicais, seja por meio da pesquisa ou no campo prático da medicina preventiva e curativa”, atenta.

Sua trajetória de vida e trabalho teve, em especial, dois grandes incentivadores que foram o Dr. Sinval Pinto Brandão Filho, atual diretor Fiocruz Pernambuco e líder do grupo de Pesquisas em Leishmanioses da mesma instituição, e o Prof. Domenico Otranto, líder da Unidade de Parasitologia da Universidade de Bari – que recebeu o Prêmio Peter Nansen em 2007. Além disso, Filipe contou com o apoio financeiro de órgãos de fomento brasileiros e italianos e de grandes indústrias farmacêuticas. “Sem o apoio financeiro desses parceiros do setor público e privado é impossível fazer pesquisa de qualidade”, reconhece.

O Prêmio
Destinado a profissionais com até 40 anos, o Prêmio foi criado para perpetuar a memória do professor Peter Nansen, de Copenhague (Dinamarca), pela sua extraordinária contribuição à parasitologia veterinária e, em particular, pela sua grande preocupação com o encorajamento de jovens cientistas promissores nessa área.

O Prêmio não é a um trabalho específico, mas ao conjunto da obra. O objetivo é reconhecer o trabalho inovador e de excelência de jovens profissionais nessa área. As indicações são feitas por dois pesquisadores, os quais devem apresentar um dossiê do candidato, detalhando a natureza inovadora e a excelência do seu trabalho. Também é feita a análise do curriculum vitae, onde são avaliados os artigos científicos publicados em revistas internacionais. Tanto a nomeação quanto a votação dos candidatos são secretas.

A condecoração é entregue a cada dois anos na conferência internacional da WAAVP. A premiação inclui uma soma em dinheiro, um certificado e a cobertura dos custos associados com a participação na conferência.

Após ter sido condecorado com tão importante prêmio na área da parasitologia veterinária, Filipe espera continuar a ser o mesmo “jovem” pesquisador e seguir em busca de novas descobertas que possam contribuir de alguma maneira para o desenvolvimento científico e tecnológico do nosso País, visando sempre o melhoramento da saúde dos animais e das pessoas. “Quando recebemos um prêmio desse porte, as pessoas sempre esperam mais de você e passam a olhá-lo como um modelo de sucesso. Na verdade, como disse durante a cerimônia de premiação, sou apenas um jovem parasitologista que se apaixonou por carrapatos, flebotomíneos e outras pequenas criaturas de enorme importância médica e veterinária”, assinala.

Para os jovens cientistas, Filipe assegura que as oportunidades estão aí, basta fazer o que gosta, com alegria, acreditar em si mesmo, dedicar-se ao máximo e saber trabalhar em equipe. “Pesquisa também é aprender com os erros, saber escutar críticas construtivas, estar aberto ao diálogo e saber dividir os insucessos e as conquistas”, conclui.

Jovem

Despite the authors youth, his research challenged old entomology concepts

 

“Ever since I was a little boy I was interested in bugs, birds, fish and some less conventional animals, as mice. I enjoyed observing their behavior and biology”, confesses Filipe Dantas-Torres, a scholar from Fiocruz who won the 2013 Peter Nansen Young Scientist Prize. The condecoration took place during the XXIV International Conference for Veterinary Parasitology Advance (ICVPA), from August 25th to 29th in Perth, Australia.

The first south-american to ever receive this prize, Filipe believes his conquer will encourage other young researchers to seek new objectives. At the age of 33, he is also the second youngest to be granted the Peter Nansen. “The prize is the result of team work and love to research. It does not mean I accomplished anything, but certainly suggests that I am in the correct path. It can lead to new findings on the so called parasites, small creatures that continue to reap thousand of peoples and animals lives every year, especially in the tropical and subtropical regions”, he says.

Filipe recognizes that quality researches are conducted in Brazil, but that many times remain internationally anonymous. Usually, this is due to language limitations, once still nowadays few researchers can write or read in English, sciences official language. “Other times, us brazilians, think it is impossible to reach other baselines”, points while saying that in fact, many things are judged impossible to be done while never done.

Filipes rewarding is evidence that everything depends on each ones will and dedication, but, overall on the ability to work in teams. “The partnerships enrich us as researchers and as people, besides allowing the optimization of the natural, human and financial resources”, highlights while regretting that unfortunately, many researchers are not ready for team work, and this has to be changed. “I believe that my reward will encourage the younger researchers to establish new national and international partnerships”, he bets.

 

How it all started
Graduated as a veterinarian, Filipe explains that the theme was chosen because ticks and the diseases transmitted by them are among the main pet and production animals health issues, both in South America and in the Mediterranean regions. Besides this, many severe human diseases are transmitted by them, as Lymes Disease and the Rocky Mountains Spotted Fever. “The interest in the theme came up naturally when still a student of veterinary medicine in the Federal Rural University of Pernambuco”, completes.

During these years, the young scientist had the opportunity to develop research projects in many countries, such as Brazil, Italy, France, Portugal, Greece and Russia. “Our projects – from all those who are part of the research group – are dedicated to the study of the taxonomy, biology and ecology of several arthropods, as ticks, mosquitoes and sandflies, seeking to better understand and control them. We also work developing new vector borne diseases diagnostic methods, treatment and control, as leishmaniasis and filariosis”, points while stressing that the goal is scientific and technological  development in this area, always seeking, when possible, to translate the results into tangible products or actions.

For the organizing committee, despite the authors youth, his research challenged old entomology concepts. For Filipe, many concepts created when technology was very limited – compared to nowadays – have been confirmed by recent researches. On the other hand, some absolute truths have been overturned, simply by conducting new researches in non explored areas or by the use of modern technology. “For instance, studies conducted in Brazil partnered by colleagues from the Federal Rural University of Pernambuco (FRUPE) and the University of Sao Paulo (USP) demonstrated that an anaconda tick called Amblyomma fuscum, that for a long time was considered rare in South America, was in fact very common”, signs while saying that the problem is that the immature forms of the parasite do not attack anacondas, but small mammals. (Dantas-Torres et al., 2012)

Filipe gives another example: recent studies from the Bari University, in Italy, demonstrated that dog ticks from several countries were thought to be from the Rhipicephalus sanguineus species, were in fact from morphologically and genetically distinct species (Dantas-Torres et al., 2013). According to him, it was proven that in a single small country as Italy, dogs could be infested by at least three different tick species that until then were identified only as the Rhipicephalus sanguineus.

A little bit of story and Tropical Medicines history
The veterinarian reminds that research led him to numerous parts of the world, to meet extraordinary people, live incredible unforgettable adventures and expeditions. “A good example was meeting Dr. Odile Bain, researcher from the Paris Natural History Museum. This great scientist guided us though an expedition in Xanthi, Greece, in the border with Turkey, searching for the Onchocerca lupi vector, an emerging dog parasite able to strike other animals, including humans (Otranto et al., 2012).

For the young scientist, Tropical Medicine is history and tradition. It means Oswaldo Gonçalves Cruz; Carlos Justiniano Ribeiro Chagas; Leonidas de Mello Deane; Henrique de Beaurepaire Rohan Aragao and many others who dedicated their lives to health in the tropics and helped writing Tropical Medicines history in Brazil and in the world. But above all, it means future. “We must work for the health of people living in tropical and subtropical regions, though research or the practical field of preventive and curative medicine”, he warns.

His life and work trajectory were instigated especially by Dr. Sinval Pinto de Brandao Filho, currently the director of Pernambuco Fiocruz and leader of the Leishmaniasis Research Group in the same institution, and Professor Domenico Otranto, leader of the Parasitology Unit in Bari Univeristy – who received the Peter Nansen Prize in 2007. Besides this, Filipe said that he was supported by brazilian and italian promotion agencies and large pharmaceutical companies. “It is impossible to conduct quality research without the financial support of these public and private partners”, recognizes.

The prize
Destined to professionals of 40 years or less, the Prize was created to perpetuate the memory of Professor Peter Nansen, from Copenhagen (Denmark), for his extraordinary contribution in veterinary parasitology and, particularly, for his great concern in encouraging young promising scientists in this field.

The prize is not about a specific work, but the overall work. The intention is to recognize innovative and excellent young professionals who work in the field. The indications are made by two researchers who must submit the candidates dossier, detailing the innovative nature and the excellency of the work. The curriculum vitae is also analyzed, and articles published in international journals are reviewed. Both the nomination and the voting are secret.

The prize is given every two years during the WAAVP international conference. The reward includes a sum of money, a certificate and the covering of all costs for attending the meeting.

After being rewarded with such and important prize in veterinary parasitology, Filipe seeks to be the same “young” researcher and follow the quest for new findings that can somehow improve our countrys scientific and technological development, always aiming to enhance peoples and animals health. “When we are awarded with a prize of this magnitude, people tend to expect more from you and make you a roll model. In fact, as I said during the awarding ceremony, I am just a young parasitologist who fell in love with ticks, sandflies and other small creatures of extreme medical and veterinary importance”, signs.

For the young scientists, Filipe assures that the opportunities are out there, and all they need to do is work with what they like, with joy believe in their selves, dedicate to the limit and know how to team work. “Research is also about learning from your mistakes, knowing how to listen to constructive critics, being available for dialog and knowing how to separate the failures from the conquers”, concludes.