Notícias

Queda da USP em ranking das melhores universidades desperta reflexõesUSP drops in the best universities ranking and raises

09/12/2013

USP

Entraves burocráticos são enormes na realidade cotidiana e que isso acarreta perda de tempo e, às vezes, a impossibilidade de realização de tarefas

“A competitividade científica é extremamente grande entre as universidades de ponta no mundo. A Universidade de São Paulo (USP), a despeito de estar melhorando em vários componentes da produção universitária, ainda não se estabilizou com produtividade consistente e oscila”, observa Dr. Marcos Boulos, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) ao comentar sobre a queda da USP no ranking das melhores universidades do mundo. Entretanto, ele realça a necessidade de políticas consistentes para tornar a base científica sólida. Dr. Boulos, que também é diretor da Divisão da Clínica de Moléstias Infecciosas e Parasitárias do Hospital das Clínicas da FMUSP, salienta que a USP do ano passado não é melhor que a USP desse ano, prováveis publicações científicas no último ano foram mais relevantes do que as publicadas nesse ano.

Já a presidente da Sociedade Brasileira de Progresso para Ciência (SBPC), Dra. Helena Nader, concorda que a produção científica da USP foi idêntica nesses dois anos e questiona como nesse período a Universidade deixou de ser excelente. Ela discorda dos argumentos apresentados para a queda. “O número de estudantes é o mesmo, assim como o de intercâmbios. Entendo que se deveria perguntar à agência classificadora qual a mudança de parâmetro”, ressalta. A presidente acredita que em algum lugar os indicadores de avaliação mudaram e é necessário saber quais foram. “Precisamos ter parâmetros claros, saber, por exemplo, quem responde a esses questionamentos e se quem opina é sobre o que conhece”, analisa.

Nader considera a USP uma Universidade modelo e pondera que ela é jovem em relação a outras universidades. “Estamos fazendo nosso papel muito bem. A ciência institucionalizada tem 60 anos e antes o Brasil não produzia nada. Temos melhorado”, acredita. Ela argumenta que o modo de operação das universidades brasileiras é diferente dos demais países. “Aqui não se ensina inglês. Então, como quer ser internacional quando não se fala inglês? Além disso, a nossa legislação é anticiência e antieducação”, critica ao citar entraves burocráticos que impedem universidades brasileiras.

Para o diretor do Laboratório de Imunologia do InCor e professor da USP, Dr. Jorge Elias Kalil, a ciência brasileira progrediu muito nos últimos 20 anos. “Hoje somos o 13º no ranking dos números de publicações. No entanto, nosso impacto ainda não está nos níveis desejados. Ou seja, conseguimos aumentar o volume, mas ainda não temos a qualidade desejada”, aponta ao destacar que as universidades têm sofrido muito com a falta de investimentos e a dificuldade de recrutamento de novos valores. Ele salienta que a ciência não se produz só com prédios e equipamentos, o principal é o cérebro.

Para o professor, é preciso criar postos de trabalho e uma carreira adequada. “A questão de inovação acrescenta mais variáveis e ela se faz com boa ciência e empreendedorismo. A inovação transcende a universidade. Precisamos de institutos e parques tecnológicos devotados, programas de incentivo a inovação”, defende ao enfatizar que a iniciativa privada tem que participar e assumir riscos, embora reconheça que a participação do governo é fundamental.

Burocracia desfavorece produção de pesquisas
Dr. Kalil adverte que os entraves burocráticos são enormes na realidade cotidiana e que isso acarreta perda de tempo e, às vezes, a impossibilidade de realização de tarefas. “Precisamos de mais liberdade de atuação com responsabilidade”, diz ao lembrar que as agências regulatórias não têm pessoal adequado e preparado à demanda. “É mais fácil e sem risco dizer não do que aprovar uma demanda. Temos que rever nossos processos”, avalia ao argumentar que viver num estado de direito não significa viver emperrado pelas normas e burocracias.

A redução dos entraves burocráticos para a pesquisa pode ser considerada um grande desafio, também na opinião do Dr. Boulos. Segundo ele, a participação em protocolos internacionais que contribuem para a internacionalização e melhora nas avaliações são difíceis de ocorrerem pela demora de aprovação dos mesmos pela burocracia. Neste tocante, Dr. Kalil adverte que é fundamental diminuir a burocracia na aprovação e execução de projetos. “A burocracia e os entraves para importação de bens e insumos são terríveis. As leis devem ser revistas em prol da competitividade do sistema como todo. Além disso, novos talentos são fundamentais, bem como os sistemas têm que beneficiar a meritocracia em todos os níveis. Isto é o fundamental e de difícil implantação”, finaliza.

USP

Bureaucratic impediments are huge in the daily reality and this leads to time loss and, sometimes, impossibility of accomplishing tasks

“Scientific competitiveness is extremely intense among the best universities of the world. Sao Paulo University (USP), despite enhancing in several university production components, has not established itself with consistent productivity and oscillates”, observes Dr. Marcos Boulos, professor of the Sao Paulo University Medical School (FMUSP) while commenting USP’s drop in the world’s best universities rankingHowever, he stresses the need of consistent policies in order to solidify the scientific basis. Dr. Boulos, who is also the director of the Infectious and Parasitary Diseases Clinic Division from the university’s hospital, points that last year’s USP is not better than this year’s USP, and scientific production from last year, is probably more relevant than this year’s.

The president of the Brazilian Society for Progress in Science (SBPC), Dr. Helena Nader, agrees that USP’s scientific production was identical these two years and questions how the university is no longer excellent. She disagrees with the explanations for the drop. “The number of students is the same, as well as the exchange students. I think the judging agency should be asked which the parameters changes were. “We must have clear parameters and know, for example, who answers these questions and if they understand what they opine about”, analyzes.

Nader considers USP to be a model university and considers it to be young among other universities. “We are playing our role very well. Institutionalized science is 60 years now and before this, Brazil never produced anything. We are improving”, believes. She argues that the operating model in Brazilian institutions is different from other countries. “English is not taught here. So, how can we be international when we don’t speak English? Besides, our legislation is anti-science and anti-education”, criticizes while mentioning bureaucratic barriers that prejudice Brazilian universities.

For the director of the Immunology Laboratory from the Heart Institute (InCor) and USP professor, Dr. Jorge Elias Kalil, Brazilian science has progressed during the last 20 years. “Today we are the 13th place in the article publication ranking. However, our impact is not in the desirable levels. This means we increased the volume, but have not achieved the desired quality”, points while highlighting that the universities suffer from lack of investments and difficulty hiring new values. He points that science is not produced by buildings and equipment, the most important factor is the brain.

For the professor, there is a demand for new workstations and adequate careers. “The subject of innovation adds more variables and it is done with good science and entrepreneurism. Innovation transcends the university. We need institutes and devoted technological parks, innovation incentive programs”, defends while emphasizing that the private sector must participate and assume risks, although the government’s presence is fundamental.

Bureaucracy disfavors research production
Dr. Kalil warns that the bureaucratic impediments are enormous in daily reality and this leads to time loss and, sometimes, the impossibility to accomplish certain tasks. “We need more action freedom, but with responsibility”, says while reminding that the regulatory agencies personnel are not adequate or prepared for the demand. We must review our processes”, evaluates while arguing that living under a rule of law does not mean to live blocked by rules and bureaucracy.

The reduction of bureaucratic impediments for research can be considered a major challenge, also in Dr. Boulos’ opinion. According to him, the participation in international protocols that contribute towards internationalization and evaluation enhancements is rare due to the bureaucracy’s delay. In this matter, Dr. Kalil adverts that reducing bureaucracy approving and executing projects is fundamental. “The bureaucracy and goods and assets importation impediments are terrible. Besides, new talents are necessary, as well as the systems that should benefit meritocracy in all levels. This is fundamental and very hard to implement”, finishes.