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Dengue: realidade tropical ultrapassando fronteiras Dengue Fever: a tropical reality surpassing borders

09/12/2013

Dengue

Utilização de mosquitos transgênicos pode ser uma ferramenta útil, associada a outras abordagens de controle, além de medidas de conscientização e mobilização das populações, bem como a melhoria das condições das áreas urbanas

Problema que afeta um contingente importante da população mundial, independentemente de classe social, a dengue tornou-se uma grande preocupação de saúde pública internacional, já que mosquitos portadores da doença são frequentemente encontrados em áreas urbanas e semi-urbanas. Em recente matéria publicada na mídia foi relatado que o Aedes albopictus, que se espalhou para a América do Norte e Europa, é altamente adaptável e, portanto, pode sobreviver em regiões temperadas mais frias da Europa. Podemos dizer então que o combate à dengue também é um desafio em países não tropicais? 

A propagação do Aedes albopictus é favorecida devido à sua tolerância a temperaturas abaixo de zero, hibernação, e capacidade para se abrigar em microhabitats. Contudo, a pesquisadora do Departamento de Entomologia do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/Fiocruz, Maria Helena Neves Lobo Silva, explica que a dengue está distribuída predominantemente em regiões tropicais e sub-tropicais, mas vários fatores têm contribuído para uma ampliação da distribuição de casos da doença em outras áreas. “Porém, este registro, do ponto de vista quantitativo é considerado discreto em relação às áreas endêmicas”, diz ao citar que alguns fatores importantes para este fenômeno são a grande mobilidade de pessoas, o transporte passivo de vetores e patógenos, as mudanças climáticas, além do desmatamento que promove desequilíbrio ambiental com impacto em reservatórios, patógenos e vetores. Ela acrescenta que estes fatores, de alguma forma, podem propiciar o encontro do patógeno, vetor e do homem que resulta no estabelecimento de ciclos de transmissão de doenças.

Em busca de alternativas
Ultrapassando as fronteiras tropicais, a dengue tem despertado a atenção de cientistas de países que tradicionalmente investem em pesquisas. O professor Luke Alphey, do Departamento de Zoologia da Universidade de Oxford, no Reino Unido, desenvolveu uma técnica de modificação genética que bloqueia a reprodução dos mosquitos. Ou seja, os descendentes machos – modificados geneticamente – quando soltos na natureza acasalam com as fêmeas, mas os seus descendentes nunca se desenvolvem, e uma vez que não se tornam adultos, resultam em um declínio gradual nas populações da espécie Aedes aegypti.

Entretanto, a pesquisadora da Fiocruz atenta que diversos estudos têm apontado que o controle de populações de Aedes aegypti requer uma abordagem integrada de métodos. Para ela, a utilização de mosquitos transgênicos pode ser uma ferramenta útil, associada a outras abordagens de controle, bem como medidas de conscientização e mobilização das populações para evitar condições que favoreçam a proliferação desta espécie, além da melhoria das condições das áreas urbanas. “O conjunto de conhecimentos hoje disponível mostra que a redução populacional desta espécie é factível, enquanto que exclusão parece ser algo pouco provável”, afirma ao adiantar que independente disso, é possível que outras espécies de culicídeos possam assumir um papel importante na transmissão de patógenos ao homem, em vista do atual cenário de emergência de arboviroses.

“Em linhas gerais, a liberação de linhagens de Ae. aegypti transgênicos, com genes letais dominantes, visa à redução populacional, enquanto que, a liberação de Ae. aegypti infectados com a bactéria Wolbachia busca substituir a população selvagem que é capaz de transmitir o vírus dengue, por uma linhagem específica com Wolbachia que é incapaz de transmitir o vírus”, lembra. A pesquisadora reconhece que o objetivo de ambas é quebrar o ciclo de transmissão da doença e ainda é cedo para avaliar sua eficiência.

Problema tropical
A especialista não acredita que a dengue possa vir a se tornar um problema de saúde pública também em países com baixa temperatura. Segundo ela, a escala do problema da doença nesses países não deverá atingir o nível dos países endêmicos por vários fatores, dentre eles, melhores condições socioeconômicas, ambientais, saúde, educação e finalmente a própria condição climática que limita, por si, as condições necessárias para a transmissão.

Além disso, Dra. Maria Helena Neves entende que a detecção de casos de dengue em países que não tinham registro de casos deve promover um incremento em operações de vigilância e controle entomológico direcionado para este problema; o que já tem ocorrido. “Na realidade, a dengue nos países endêmicos é uma questão mais preocupante, pois atinge um número significativamente maior de pessoas em países com deficiências nos sistemas de vigilância e controle, além de outras dificuldades para enfrentar esta doença”, comenta ao realçar que já há iniciativas importantes no desenvolvimento de vacinas, em andamento.

 

Dengue

The use of transgenic mosquitoes can be a useful tool, associated to other control approaches, as well as population awareness and mobility measures, besides enhancing the urban areas conditions

 

A problem striking an important part of the world’s population, regardless of income status, dengue fever has become a great international public health concern, since the transmitting mosquitoes are frequently found in urban and peri-urban sites. In a recent article published in the media, it was reported that the Aedes albopictus, which has spread towards North America and Europe, is highly adaptable, therefore, can survive in the coldest temperate regions of Europe. Could we affirm that combatting dengue fever is also non-tropical countries’ challenge?

The propagation of the Aedes albopictus is favored due to its resistance to below freezing temperatures, hibernation and the capacity to shelter in microhabitats. However, the researcher of the Entomology Department of the Aggeu Magalhães/Fiocruz Research Center, Maria Helena Neves Lobo Silva, explains that dengue fever is distributed predominantly in tropical and sub-tropical regions, but several factors have contributed to a raise in the cases distribution in other areas. “Nevertheless, this registry is considered scarce from the quantitative point of view when compared to the endemic areas”, says while quoting that some important factors for this phenomenon are large people mobility, passive vectors, pathogen transport and climate changes besides deforestation, which promotes an environmental imbalance impacting reservoirs, pathogens and vectors. She adds that these factors, somehow, can favor the man-vector encounter, and thus, establishing the disease transmission cycles.

Seeking alternatives
Overcoming the tropical borders, dengue fever has drawn attention of scientists from countries that traditionally invest in research. Luke Alphey, professor from the Zoology Department at the Oxford University, UK, had developed a genetic modification technique that blocks the mosquitoes’ reproduction in a way the male descendants – genetically modified – when released in the environment, breed, but their descendants never develop, and once they never become adults, the result is a gradual decay of the Aedis aegypti populations.

However, the Fiocruz researcher stresses that several studies have shown that Aedes aegypti populations control require an integrated methods approach. For her, the use of transgenic mosquitoes can be a useful tool, associated to other control approaches, as well as population awareness and mobility measures, besides enhancing the urban areas conditions. “The body of knowledge available today shows that reducing this species’ populations is feasible, while excluding them seems unlikely”, affirms while forwarding that regardless of this, it is possible that other culicidae species could take an important role when transmitting pathogens to men, due to the actual arboviral diseases emergence scenario.

“In general, releasing transgenic Aedes aegypti with lethal dominant genes, seeks to population reduction, while releasing mosquitoes infected by the Wolbachia bacteria seeks to reduce the wild population, able to transmit the dengue fever virus, for a specific Wolbachia lineage, which is unable to transmit the virus”, reminds. The researcher acknowledges that the goal of both is to interrupt the disease transmission cycle and that it is still early to evaluate its efficiency.

Tropical problem
The specialist does not believe that dengue fever could become a public health issue in cold countries. According to her, the disease should not reach endemic levels in these countries for several factors, among them, better socioeconomic, environmental, health and education conditions, and finally, the climate condition itself, that restricts the necessary transmission conditions.

Besides this, Dr. Maria Helena Neves understands that detecting dengue fever cases in countries with no disease records should promote an increase in surveillance operations and entomological control towards this disease; which already happens. “In fact, dengue fever in the endemic countries is a more worrying fact, once a significantly larger number of people are affected in places where the surveillance and control systems are deficient, besides other difficulties to face this disease”, comments while highlighting that important initiatives, such as vaccine development, were taken.