Notícias

Países de clima tropical possuem menor desenvolvimento econômico?Do tropical countries have lower economic development? 13/08/2012

País

Devem ser priorizadas ações de políticas públicas e amplos recursos financeiros em benefício da saúde e da educação, bases para promover o indivíduo à sua dignidade de ser humano

A economia de um país pode ser influenciada pelo clima, pela geologia, e pelos fatores político-sociais. A geologia pode afetar a disponibilidade de recursos, o custo de transporte e as decisões sobre o uso da terra. “O clima pode influenciar a disponibilidade de recursos naturais – especialmente produtos agrícolas e florestais – e as condições de trabalho e produtividade”, conforme adianta a professora de geografia da Universidade de Brasília (UnB), Ercília Torres.

No livro “Why Nations Fail: The Origins of Power, Prosperity, and Poverty” de Daron Acemoglu e James A. Robinson, realçado por Jared Diamond em artigo publicado no The New York Review of Books os autores defendem que diversos economistas têm opiniões diferentes sobre a importância relativa das condições e fatores que fazem os países mais ricos ou mais pobres. Entretanto, destacam na obra que os fatores que mais discutem são chamados de boas instituições, que podem ser definidas como as leis e práticas que motivam as pessoas a trabalharem duro, serem economicamente produtivas e, assim, enriquecerem a si mesmos e seus países. São os chamados fatores político-sociais.

O economista Anchieta Hélcias, lembra que quando se debate as causas do atraso econômico-social dos países tropicais, em especial os da América Latina, surgem as mais diversas teses. No século XIX culpava-se a herança ibérica, com seu catolicismo intolerante; a indolente população nativa que era contra o progresso. “Essa tese foi destruída pelo sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre, cuja obra ressaltou o potencial das populações dos trópicos, em especial a brasileira. Por ele denominada civilização luso-trópico”, afirma o economista. Em ideia defendida por Freyre, já no século XX, atribuía-se como causas, a injusta distribuição de renda e a falta de acesso dos camponeses à terra.

O pensamento do economista encontra consonância na obra criticada por Jared Diamond. Para ambos os autores, que citam o exemplo de uma cidade fronteiriça entre México e EUA, Nogales, a razão do lado americano, no Arizona, ser muito mais rica do que Sonora – que fica do lado mexicano – é simples: as instituições são muito diferentes nos dois lados da fronteira e criam incentivos distintos para os habitantes de Nogales, Arizona, contra Nogales, Sonora.

Apesar de indicar o livro o autor do artigo faz ressalvas quanto à necessidade de se levar em consideração outros fatores, como o clima e a geologia, ao se perguntar o que faz um país rico ou pobre. Diamond questiona, por exemplo, quais as desvantagens econômicas de uma região tropical? Ele defende que dois fatores, principais, contribuem para a pobreza dos países tropicais em comparação com países de clima temperado: doenças e produtividade agrícola. “As doenças tropicais diferem em média, de doenças de clima temperado, em vários aspectos”, aponta em sua crítica.

De acordo com a professora de geografia da UnB, o que define o clima de um país ou área é a circulação geral da atmosfera que, por sua vez, determina quais sistemas meteorológicos atuarão em cada região. “Segundo determinismo geográfico, o ambiente define e/ou influencia fortemente a fisiologia e o comportamento humano, de modo que seria possível explicar a história dos povos em função das relações de causa e efeito que se estabeleceriam na interação natureza/homem”, complementa.

Assim como Jared, Ercília assegura que o clima influencia as pessoas de muitas maneiras. “Chuvas torrenciais, impactam a vida de um cidadão comum e promovem problemas na agricultura. Além disso, há agravamento dos problemas sociais quando ocorrem desastres climáticos, como: chuva forte e secas intensas”, salienta. Ela frisa que algumas doenças características de culturas podem ser desencadeadas por condições climáticas desfavoráveis, dependendo da região e de outros fatores. “A expansão da soja para o cerrado do Brasil Central, por exemplo, permitiu alcançar elevada produtividade. Contudo, as condições climáticas dessa região, como a elevada temperatura e umidade relativa do ar e, condições de desequilíbrio nutricional, podem favorecer a ocorrência de diversas doenças antes tidas como secundárias”, atenta ao realçar o problema da dengue nos países tropicais, onde as condições do ambiente associadas à ineficácia das políticas públicas de saúde favorecem o desenvolvimento e a proliferação do Aedes aegypti.

Como diz Jared Diamond em sua crítica: “não há uma resposta simples para a pergunta por que cada um de nós se torna mais rico ou mais pobre”. Para citar alguns fatores, ele destaca: herança, educação, ambição, talento, saúde, relações pessoais, oportunidades e sorte. Por isso, como pontua em seu artigo, não devemos nos surpreender com a questão do porquê sociedades inteiras se tornam mais ricas ou mais pobres, “não pode ser dada uma resposta simples”, analisa.

Para o economista Anchieta Hélcias, somos réus e, ao mesmo tempo, vítimas dos valores culturais que forjaram as sociedades tropicais, entre essas se destaca a nossa, a brasileira. Essa dual posição, de réus e vítimas, atinge ao mesmo tempo as elites, por egoístas que são, e o povo, por seu conformismo. Há de se entender ser a sociedade um todo, que necessita que sejam priorizadas ações de políticas públicas e amplos recursos financeiros em benefício da saúde e da educação, bases para promover o indivíduo à sua dignidade de ser humano.

País

Public policy actions and broad financial resources should be prioritized for the benefit of health and education, as these are basic necessities for human dignity.

A country’s economy can be influenced by climate, geology, and socio-political factors. Geology may affect the availability of resources, transportation costs and decisions about land use. Climate can influence the availability of natural resources – especially agricultural and forestry products – and work conditions and productivity, says Ercília Torres, geography professor at the University of Brasilia (UNB).

The book Why Nations Fail: The Origins of Power, Prosperity, and Poverty by Daron Acemoglu and James A. Robinson, and discussed by Jared Diamond in an article published in The New York Review of Books, argues that many economists have different views about the relative importance of conditions and factors that make countries richer or poorer. However, the authors emphasize that they mostly discuss the so-called good institutions, which can be defined as those laws and practices that motivate people to work hard, be economically productive and, thus, enrich themselves and their countries. These are the so-called social-political factors.

The economist Anchieta Hélcias recalls that there are many different theories about the causes of social-economic backwardness of tropical countries, especially those in Latin America. In the nineteenth century, it was common to blame the Iberian heritage, with its intolerant Catholicism, and the indolent native population that was against progress. This thesis was destroyed by sociologist and anthropologist Gilberto Freyre, whose work emphasized the potential of the populations of the tropics, especially in Brazil, says the economist. According to Freyre, in the twentieth century, unfair income distribution and peasants lack of access to land were seen as being some of the main causes.

The line of thought of the economists work is consistent with the book criticized by Jared Diamond. The authors of the book cite the example of a border town between Mexico and the U.S., called Nogales. The reason why the American side, in Arizona, is much richer than the Mexican side, in Sonora, is simple: institutions are very different on both sides of the border and create different incentives for the people.

Although he recommends the book, Diamond has reservations about the need to take into account other factors, such as climate and geology, when considering what makes a country rich or poor. He questions, for example, what the economic disadvantages of a tropical region are? He argues that two main factors contribute to poverty in tropical countries compared with countries with temperate climates: diseases and agricultural productivity. Tropical diseases differ from temperate diseases, in many ways, he says.

Torres says that what defines the climate of a country or area is the general circulation of the atmosphere, which determines the weather systems of each region. According to geographical determinism, the environment defines and/or strongly influences human physiology and behavior, so it is possible to explain the history of people in terms of cause and effect relationships that establish the interaction between man and nature”.

Like Diamond, Torres believes that climate affects people in many ways. Torrential rain impacts the lives of ordinary citizens and creates big problems for agriculture. Moreover, natural disasters, such as heavy rain and intense droughts, worsen social problems, she stresses. She notes that certain characteristics of crop diseases may be triggered by unfavorable weather conditions, depending on the region and other factors. The expansion of soy culture to the Cerrado of Central Brazil, for example, increased productivity. However, the region’s climate, with its high temperature and relative humidity, and conditions of nutritional imbalance may promote the occurrence of various diseases that were previously regarded as secondary, she says, highlighting the problem of dengue fever in tropical countries, where environmental conditions associated with the ineffectiveness of public health policies have led to the development and proliferation of Aedes aegypti.

According to Jared Diamond’s criticism: There is no simple answer to the question why each of us becomes richer or poorer. He suggests several factors: heritage, education, ambition, talent, health, personal relationships, opportunities and luck. Therefore, as he points out in his article, we should not be surprised that whole societies become richer or poorer: there is no simple answer, he says.

For the economist Anchieta Hélcias, we are defendants, and at the same time, victims of cultural values that shaped tropical societies, including Brazilian society. This dual position – defendant and victim – simultaneously affects the elites, due to their selfishness, and the general population, due to their resignation. One should understand society as a whole, where public policies must be prioritized and backed by ample financial resources for health and education, which are the basic necessities for human dignity.