Notícias

Medicamento contra malária só deve ser consumido após controle de qualidadeMedication against malaria should only be consu

13/09/2012

Pedro

Um Ano de Newsletter da SBMT

Pesquisadores vêm alertando, há anos, que parasitas resistentes até mesmo aos medicamentos mais modernos – à base de artemisinina – estão surgindo na fronteira Tailândia-Camboja

Medicamentos falsificados contra malária e de baixa qualidade são uma ameaça crescente aos esforços para combater a doença. A informação foi veiculada no Jornal New York Times. O problema, segundo Dr. Pedro Tauil, médico, epidemiologista e doutor em Medicina Tropical, é que a falsificação favorece o aparecimento de resistência do parasito aos medicamentos, tornando mais difícil o controle da doença. “Aumenta o risco de incidência de casos, pois os pacientes ficam por mais tempo como fontes de infecção para os mosquitos, aumentando o número de casos graves e de óbitos”, alerta o especialista.

Dr. Tauil explica que os medicamentos para tratamento da malária são múltiplos e depende da espécie do parasito infectante: Plasmodium vivax, P. falciparum, P. malariae, P. ovale e P. knowlesi. Ele afirma que os casos mais graves são produzidos por P. falciparum. Este é tratado, atualmente, com medicação associada de derivados da artemisinina com lumefantrine ou com mefloquina. “Pode-se ainda usar quinino associado com tetraciclinas. A cloroquina é usada para as outras espécies, isoladamente (P. malariae e P. knowlesi) ou associada à primaquina (P .vivax)”, observa.

Entretanto, conforme ressaltado na matéria do Times, pesquisadores vêm alertando, há anos, que parasitas resistentes até mesmo aos medicamentos mais modernos – à base de artemisinina – estão surgindo na fronteira Tailândia-Camboja. De acordo com os estudiosos a culpa são de drogas ineficazes. Dr. Tauil também acredita nisso. Ele esclarece que o medicamento passa por várias análises antes de ser disponibilizado para a população: “ Há a fase pré-clinica (em geral com animais) e a fase clínica, para ver eventos adversos, modo de usar, farmacocinética e farmacodinâmica e eficácia das drogas, ressalta” Para o teste, podem ser usados voluntários, desde que devidamente acompanhados por médicos – para avaliar o surgimento de um eventual problema. São testes chamados ensaios clínicos ou ensaios terapêuticos. A partir da comprovação da eficácia dá-se início a produção da droga. Mas a quem cabe fiscalizar a qualidade do produto?

Na opinião do Dr. Tauil, o ocorrido não é um problema pontual. “É mandatório que amostras de todos os lotes dos medicamentos sejam submetidos ao controle de qualidade antes de serem liberados para o consumo”, defende o doutor em Medicina Tropical. Ele diz que, no Brasil,a fiscalização é realizada pela Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “O Ministério da Saúde, que distribui gratuitamente o tratamento para os pacientes, só os utiliza após passar pelo controle de qualidade em laboratórios credenciados”, assegura.

Dr. Tauil destaca que a fabricação de drogas de baixa qualidade pode prejudicar diversos países. “Os países endêmicos são, logicamente, os maiores consumidores – África ao Sul do Saara, Sudeste Asiático, América do Sul, Central e Caribe. Porém, países não endêmicos tratam também os casos importados”, ressalta. A reportagem do Times divulga que a malária é endêmica em 106 países, mas apenas três países africanos têm laboratórios capazes de testar falsificações.

O especialista lembra que há vários laboratórios pelo mundo, na Índia, na China, e também na Suíça que produzem medicamentos contra a malária. “No Brasil, a Farmanguinhos/FIOCRUZ, produz vários”, realça. Ele comenta que os derivados da artemisinina combinados com lumefantrine são comprados da Índia e da Suíça (Lab. Novartis), enquanto os associados com mefloquina são fabricados pela Farmanguinhos/FIOCRUZ.”

Malária no Brasil
A doença está concentrada na Amazônia, com registro de 99,9% dos casos – conforme diz Dr. Tauil. Atualmente, a principal medida de controle usada é o diagnóstico e tratamento precoces. “Mais de 60% dos casos são tratados nas primeiras 48 horas do início dos sintomas”, assinala o médico. Ele diz que isto tem reduzido a incidência de casos produzidos por P. falciparum, reduzindo os números de óbitos (menos de 100 por ano) e de internações no SUS.

“Além dessa medida são usadas ainda medidas de controle vetorial. Existem áreas que utilizam mosquiteiros impregnados com inseticida. Há uma tendência de queda da incidência, porém o número de casos ainda é alto (mais de 300 mil por ano)”, assinala. O doutor em Medicina Tropical garante que mais de 85% dos casos são devidos ao P. vivax, responsáveis por formas mais brandas da doença. Entretanto, o tratamento dessa forma é mais prolongado e muitos pacientes não aderem ao tratamento completo. “Isso é um perigo, mantém a transmissão e favorece o aparecimento de resistência e recaídas da doença. O controle da malária precisa estar na agenda política dos governos federal, estaduais e municipais da Amazônia, pois depende de ações intersetoriais”, analisa Dr. Tauil.

A incidência aumenta em áreas com movimentos populacionais, onde pessoas residem em habitações precárias e trabalham em condições adversas – dentro da mata, por exemplo. Áreas de garimpo, construção de estradas e hidrelétricas, assentamentos de agricultores, áreas indígenas são aquelas que concentram maiores riscos de transmissão, segundo o especialista que acredita que a educação da população é fundamental para haver melhor controle.

Pedro

Researchers have been warning for years that parasites resistant to even the most modern medicines – artemisinin-based ones – are emerging along the Thailand-Cambodia border

Counterfeit and low quality malaria drugs are a growing threat in fighting the disease. The information was published in the New York Times. The problem, according to Dr. Pedro Tauil, physician, epidemiologist and Tropical Medicine doctor, is that counterfeiting encourages parasite resistance to drugs, making it more difficult to control the disease. “It increases the risk of new cases, because patients remain for longer as sources of infection for mosquitoes, increasing the number of serious cases and deaths”, warns the expert.

Dr. Tauil explains that there are many different malaria drugs, and their usage depends on the species of the infecting parasite: Plasmodium vivax, P. falciparum, P. malariae, P. ovale and P. knowlesi. He says the most serious cases are produced by P. falciparum, which is currently treated with the association of artemisinin and lumefantrine derivatives or with mefloquine. You can also use quinine associated with tetracyclines. Chloroquine is used for the other species, either on its own (P. malariae and P. knowlesi) or with primaquine (P. Vivax), he notes.

However, as the Times story highlights, researchers have been warning for years that parasites resistant to even the most modern medicines (artemisinin-based ones) are emerging along the Thailand-Cambodia border. Scholars blame ineffective drugs. Dr. Tauil also believes this is the case. He explains that medication must pass through several reviews before being made available to the public: “There is a preclinical (usually with animals) and clinical phase, to check for adverse events, how to use them, the pharmacokinetics, pharmacodynamics and efficacy of drugs, he says.” Volunteers may be used for testing, if properly monitored by doctors, to assess for potential problems. These tests are called clinical trials or therapeutic trials. Once their efficacy is proven, drug production begins. But who is responsible for overseeing product quality?

In Dr. Tauil’s opinion, the incident is not an isolated problem. “It is essential that samples of all batches of drugs undergo quality control before being released for consumption”, argues the doctor. He says that in Brazil, the surveillance is conducted by the National Agency for Sanitary Vigilance (Anvisa). “The Ministry of Health, which distributes free treatment to patients, only uses it after quality control in accredited laboratories”, he says.

Tauil highlights that the production of low quality drugs can harm many countries. “The endemic countries are, of course, the biggest consumers: South Saharan Africa, Southeast Asia, South America, Central America and the Caribbean. However, non-endemic countries also deal with imported cases”, he says. A report in The Times discloses that malaria is endemic in 106 countries, but only three African countries have laboratories that can test drugs for counterfeiting.

Tauil says there are several laboratories around the world, in India, China, and also in Switzerland that produce drugs against malaria. “In Brazil, Farmanguinhos/FIOCRUZ, produces several”. Artemisinin derivatives combined with lumefantrine are bought in India and Switzerland (Lab. Novartis), while those associated with mefloquine are manufactured by Farmanguinhos/FIOCRUZ.”

Malaria in Brazil
The disease is concentrated in the Amazon, which has 99.9% of the recorded cases, according to Tauil. Currently, the primary control measure used is early diagnosis and treatment. “More than 60% of cases are treated within 48 hours of onset of symptoms”, says the doctor. It has reduced the incidence of cases produced by P. falciparum, reducing the numbers of deaths (less than 100 per year) and hospitalizations.

“In addition, vector control measures are also used. There are areas where mosquito nets impregnated with insecticide are used. The incidence trend is decreasing, but the number of cases is still high (over 300,000 per year)”, he points out. Tauil says that more than 85% of cases are due to P. vivax, responsible for milder forms of the disease. However, its treatment takes longer and many patients do not adhere to the complete treatment. “This is dangerous, transmission is maintained and leads to the emergence of resistance and relapses. Malaria control needs to be on the political agenda of the federal, state and municipal governments of Amazonia, because it depends on intersectoral actions”, says Tauil.

The incidence increases in areas with mobile populations, where people live in substandard housing and work in adverse conditions:in the wilderness, for example. Mining areas, construction of roads and dams, settlements of farmers, and indigenous areas have a greater risk of transmission, according to the expert, who believes that public education is critical to improving control.