Notícias

Brasil aposta em bactéria para bloquear transmissão da dengueBrazil bets on bacteria to block transmission of dengue
Eliminar

O desenvolvimento de novas estratégias, como a Wolbachia e as vacinas, aliadas as atuais estratégias disponíveis, tornarão a prevenção e o controle da dengue mais efetivos

Pesquisadores brasileiros testam uma nova estratégia para o controle da dengue. A pesquisa consiste na utilização da bactéria Wolbachia para conter a transmissão do vírus presente no mosquito Aedes aegypti. O anúncio foi feito pela Fiocruz em meio ao 18º Congresso Internacional de Medicina Tropical e Malária (ICTMM), ocorrido no Rio de Janeiro.

O programa de pesquisa é liderado pela Universidade de Monash (Melbourne, Austrália) com diversos colaboradores. O projeto integra o esforço internacional sem fins lucrativos do Programa “Eliminate Dengue: Our Challenge”, que testa o método na Austrália, Vietnã, Indonésia e, agora, Brasil.

O estudo consiste na introdução da bactéria do gênero Wolbachia no mosquito, que atua como uma vacina, bloqueando a multiplicação do vírus da dengue dentro do inseto. “Como consequência, a transmissão da doença é impedida”, adiantou Dr. Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz e líder do projeto no Brasil. Com testes bem sucedidos em localidades australianas, o uso da bactéria tem o potencial de ser uma tecnologia autossustentável, uma vez que a perpetuação da característica é garantida no processo reprodutivo do mosquito, dispensando os custos de soltura continuada no ambiente, conforme defende o pesquisador da Fiocruz.

Para o pesquisador Scott O’Neill, líder do programa internacional “Eliminate Dengue: Our Challenge”, após tantos anos de trabalho em laboratório será estimulante fazer o experimento ao lado de pesquisadores brasileiros. “Depois de dois anos de testes de campo exitosos na Austrália, espero que a descoberta possa contribuir para alcançar um impacto real na redução de transmissão da dengue no Brasil”, comentou Scott O’Neill.

Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS), ressaltou que o uso da Wolbachia para o controle da dengue pode se constituir em uma estratégia promissora. “A SVS vem apoiando diversas iniciativas que têm como objetivo aprimorar o controle da dengue no país. Entendo que o desenvolvimento de novas estratégias, como a Wolbachia e as vacinas, aliadas as atuais estratégias disponíveis, tornarão a prevenção e o controle da dengue mais efetivos”, observou.

A Wolbachia

Wolbachia pipientis é uma bactéria intracelular observada pela primeira vez há 70 anos, em mosquitos da espécie Culex pipens.

Estudos recentes demonstraram que essa bactéria é amplamente presente nos invertebrados e pode ocorrer naturalmente em mais de 70% de todos os insetos do mundo. Apesar de uma ampla gama de hospedeiros a Wolbachia não é infecciosa e não é capaz de infectar vertebrados, incluindo os humanos.

No Brasil, os ovos do mosquito com Wolbachia foram trazidos da Austrália com a autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que é a autoridade competente para essa questão. Usando os ovos vindos da Austrália, está sendo gerada uma colônia brasileira de Aedes aegypti com Wolbachia, sob condições de laboratório na Fiocruz.

“Havendo a aprovação das autoridades regulatórias e com o consentimento dos moradores das potenciais localidades, o planejamento é que tenhamos os primeiros testes de campo com soltura dos mosquitos em maio de 2014, em época fora do pico de casos”, informou Dr. Luciano Moreira, que coordena uma equipe multidisciplinar de entomologistas, pesquisadores de campo e profissionais dedicados ao engajamento comunitário.

Contra a dengue é preciso um pouco de tudo
Na avaliação do Dr. Eric Martinez-Torres, doutorem Ciências Médicas, membro da Academia de Ciências de Cuba (ACC) e da Associação Pan-americana de Infectologia (API), as possibilidades para combater a dengue são inúmeras e questiona: “o que será melhor, modificar o vetor ou proteger as pessoas com vacinas? Eu acho que tudo. Nós precisamos de tudo, não apenas dessas duas”, destaca o especialista cubano. Ele salientou que a vacina, a modificação do vetor, tudo está englobado na educação. “Educação para a saúde é provavelmente o mais importante de tudo.”

Palestrante do Congresso, o especialista debateu sobre as manifestações da dengue e a melhor maneira de classificá-la para o monitoramento no dia a dia. “Até hoje, não existe um medicamento, um remédio eficaz contra a dengue. Mas temos uma tecnologia que não é tangível, que não podemos tocar, que é a educação médica e a organização dos serviços”, observou ao realçar que a estruturação do atendimento permite melhor o acompanhamento dos doentes. “Sem dúvida o manejo clínico faz toda a diferença no tratamento da dengue. A grande maioria das pessoas com dengue não tem que morrer”, analisa Dr. Martinez ao afirmar que não é uma tarefa fácil. Ele lembra que para isto é preciso que todos os profissionais de saúde sejam bem treinados: médicos, enfermeiros. Todos aqueles que compõem os serviços da atenção primária, encaminhando cada doente, acompanhando e instalando tratamento para as emergências antes das complicações para tentar evitá-las. “Os hospitais tem que servir apenas para complementar esse serviço quando necessário, mediante o encaminhamento”, pontuou.

Para educar, Dr. Martinez acredita que a ferramenta mais importante é a comunicação social, uma vez que são necessárias mudanças de costume, de hábitos, de conhecimentos, ou seja, modificações na forma de viver. “Nisso a imprensa é decisiva, e não somente a imprensa, mas também escolas e universidades. Todos têm que trabalhar juntos”, adiantou ao apontar que a melhor tecnologia – que é a educação – não é tangível, “mas é tão ou mais importante que qualquer outra ação”.

Eliminar

The development of new strategies, such as Wolbachia and vaccines, allied to the current strategies available, will make the prevention and control of dengue more effective

Brazilian researchers are testing a new strategy for dengue control. Their research consists in the use of the bacterium Wolbachia to contain the spread of this virus in the mosquito Aedes aegypti. The announcement was made by Fiocruz during the 18th International Congress on Tropical Medicine and Malaria (ICTMM), held in Rio de Janeiro.

The research program is led by Monash University (Melbourne, Australia) with various collaborators. The project is part of the nonprofit international effort of the Program “Eliminate Dengue: Our Challenge”, which tests the method in Australia, Vietnam, Indonesia, and now Brazil.

The study consists of the introduction of bacteria of the genus Wolbachia into the mosquito, which acts as a vaccine, blocking the multiplication of the dengue virus within the insect. “As a result, the transmission of the disease is prevented”, said Dr. Luciano Moreira, Fiocruz researcher and project leader in Brazil. Tests in Australian locations have been successful. The use of the bacterium has the potential to be a self-sustaining technology, since the perpetuation of the characteristic is ensured in the mosquito’s reproductive process, eliminating the costs of continued release into the environment, according to the Fiocruz researcher.

Researcher Scott ONeill, head of the international program Eliminate Dengue: Our Challenge, says that after so many years of laboratory work it will be exciting to experiment alongside Brazilian researchers. “After two years of successful field trials in Australia, I hope the discovery will help to achieve a real impact in reducing dengue transmission in Brazil”, he said.

Jarbas Barbosa, Secretary of Health Surveillance, Ministry of Health (SVS/MS), pointed out that the use of Wolbachia to control dengue may be a promising strategy. “SVS is supporting several initiatives to improve control of dengue in the country. I understand that the development of new strategies such as Wolbachia and vaccines, allied to the current strategies available, will make the prevention and control of dengue more effective”, he noted.

Wolbachia

Wolbachia pipientis is an intracellular bacterium, which was first observed 70 years ago in mosquitoes of the species Culex pipens.

Recent studies have shown that this bacterium is widely present in invertebrates and can naturally occur in over 70% of all insects in the world. In spite of a wide range of hosts Wolbachia is not infectious and cannot infect vertebrates, including humans.

In Brazil, the eggs of mosquitoes with Wolbachia were brought from Australia with the authorization of the Brazilian Institute of Environment and Renewable Natural Resources (IBAMA), which is the competent authority for this issue. Using the eggs from Australia, a Brazilian colony of Aedes aegypti with Wolbachia is being created under laboratory conditions at Fiocruz.

“With the approval of regulatory authorities and with the consent of the residents of the potential locations, the plan is to do the first field tests to release mosquitoes in May 2014, at a time that is off-peak for cases”, said Dr. Moreira, who is coordinating a multidisciplinary team of entomologists, field researchers and professionals dedicated to community engagement.

Beating dengue takes a little bit of everything

In the assessment of Dr. Eric Martinez-Torres, Doctor of Medical Sciences, Academy of Sciences of Cuba (ACC) and the Pan-American Association of Infectious Diseases (PAI), the possibilities to combat dengue are numerous and he questions: What will be better, to modify the vector or protect people with vaccines? I think it is everything. We need everything, not just these two”, said the Cuban specialist. He stressed that the vaccine, the modification of  the vector, is all encompassed in education. “Health education is probably the most important thing.”

A speaker at the Congress, the expert discussed the manifestations of dengue and the best way to classify it for day to day monitoring. “Until now, there is no drug, no effective drug against dengue. But we have a technology that is not tangible, which is medical education and organization of services”, he noted, while stating that the structuring of care enables better monitoring of patients. Undoubtedly the clinical management makes all the difference in the treatment of dengue. The vast majority of people with dengue fever do not have to die”, says Dr. Martinez. But he confirms that the task is not easy. He points out that for this, all health professionals must be well trained; all those who make up the services of primary care, referring each patient and installing treatment for emergencies before complications occur in order to try and avoid them. “Hospitals have to serve only as a complement to this service when necessary, by referral”, he pointed out.

To educate people, Dr. Martinez believes the most important tool is social communication, because habits have to be changed, as well as knowledge, or rather, changes in the way of living. “The media is crucial in all this, not only the press but also schools and universities. Everyone has to work together”, he said while indicating that the best technology – education – is not tangible, “but it is just as, or more, important than any other action”.