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Presidente da SBMT defende as democracias institucionais

Dr. Marcus Lacerda espera que o rito da escolha do novo presidente da Fiocruz siga sua tradição, e que a instituição continue firme no seu propósito de apoiar o avanço da saúde de qualidade para os brasileiros

02/01/2017

A Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), fundada em 1962, desde então aglutina pessoas preocupadas com as mazelas da população mais negligenciada desse país, e tem proposto medidas para o controle da doença de Chagas, da esquistossomose, das filarioses, da malária, das leishmanioses, entre outras doenças exóticas que ainda acontecem no nosso vasto território, em sua maioria, de clima tropical úmido. Nossa sociedade não é financiada por governos ou instituições, mas nossos sócios, incluindo seus fundadores, procedem das mais variadas instituições acadêmicas, o que nos confere diversidade e representatividade nacional. Por isso, somos a segunda maior sociedade de Medicina Tropical do mundo, depois da sociedade americana.

Vale a pena comentar que muito tempo antes da fundação de nossa sociedade, a Fundação Oswaldo Cruz já era uma instituição de muito prestígio aqui no Brasil e lá fora, respeito que vem sendo conquistado ao longo de mais de um século. O que começou como uma iniciativa para o controle da febre amarela, da peste e da varíola no Rio de Janeiro, pelo sanitarista Oswaldo Cruz, transformou-se em uma rede de pesquisas capilarizada, além de uma cadeia produtiva de boa parte dos insumos utilizados pelo Sistema Único de Saúde, tais como vacinas, testes diagnósticos e medicações. À propósito, o SUS nasceu dentro da Fiocruz. Na recente emergência anunciada pela Organização Mundial da Saúde em relação à infecção pelo vírus da Zika, a própria diretora-geral da OMS, Margaret Chan, esteve no Brasil e visitou a Fiocruz para entender a dimensão dos estudos que estavam sendo realizados aqui. Saiu impressionada com a qualidade técnica e científica.

Mas para atingir essa complexidade e grau de respeito, a Fiocruz tem investido enorme esforço em aperfeiçoar sua gestão, baseada em princípios que são os mesmos da gestão do nosso país: eficiência, transparência e democracia participativa. Como a maior parte das instituições de pesquisa federais, a comunidade da Fiocruz debate internamente suas ideias, seus desafios, suas soluções e conduz um processo eleitoral, de onde escolhe a pessoa que considera, naquele momento, mais preparada para liderar a instituição. A partir dessa eleição, elabora-se uma lista chamada tríplice, que é então enviada para a nomeação pelo presidente da República.

Na última semana, bastidores do Planalto têm sido noticiados pela imprensa, com a informação de que o presidente nomearia a segunda colocada da lista tríplice enviada pela Fiocruz, nas últimas eleições de 2016.

A SBMT vê com preocupação essa possibilidade de retrocesso democrático, e torce para que o rito da escolha do novo presidente da Fiocruz siga sua tradição, e que a instituição continue firme no seu propósito de apoiar o avanço da saúde de qualidade para os brasileiros.

Os governos voam, as instituições permanecem’.

 

Prof. Dr. Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda

Presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (2015-2017)…