Notícias

UnB extingue obrigatoriedade de disciplina sobre Doenças Tropicais e gera polêmica UnB ceases to require the subject on tropical diseases and causes controversy

Fim da disciplina de Doenças Infecciosas e Parasitárias no curso de medicina da Universidade de Brasília alerta para qualidade de formação dos futuros médicosEnd of the Infectious and Parasitic Diseases subject from the Brasilia University’s medical school alerts for the formation of the future doctors

20/03/2015

Matéria

Países do Hemisfério Norte estão se preocupando e dando a estas doenças mais importância do que o Brasil, onde elas geralmente ocorrem endemicamente ou em devastadoras epidemias

A forma como a Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) tem tratado o estudo sobre Doenças Infecciosas e Parasitárias tem sido motivo de preocupação do corpo médico brasileiro. Recentemente, a instituição deixou a disciplina que trata do assunto em segundo plano, retirando a matéria da grade obrigatória do curso.

De acordo com doutor em Medicina Tropical, João Barberino Santos, as Doenças Infecciosas e Parasitárias são o centro da Medicina Tropical e, uma vez que o Brasil é um dos maiores países onde prevalecem estas doenças, é importante que os futuros médicos tenham acesso a uma formação avançada sobre o tema.

“Acreditamos na necessidade de obrigatoriedade de seu estudo específico com ementa, programação, carga horária e avaliação. O aluno deveria ter, pelo menos, três momentos de contato em aulas específicas e discussões com o docente. Não podemos assistir impassíveis a diminuição gradativa da prioridade desta disciplina na graduação dos futuros médicos brasileiros”, disse consternado.

A especialidade Doenças Infecciosas e Parasitárias se concentra em problemas como infecções hospitalares, além de doenças causadas por animais peçonhentos como cobras e escorpiões. Este grupo de enfermidades está diretamente ligado à pobreza e à qualidade de vida, englobando patologias relacionadas a condições de habitação, alimentação e higiene precárias muito comuns no Brasil.

Ainda de acordo com Dr. Barberino, o tema é objeto de estudo em vários países de primeiro mundo como no Instituto de Higiene e Medicina Tropical de Londres, nos Institutos de Medicina Tropical das Universidades de Berlim, Munique, Heildeberg e Tübingen, entre tantos outros. “Não é possível que países do Hemisfério Norte estejam se preocupando e dando a estas doenças mais importância do que o Brasil, onde elas geralmente ocorrem endemicamente ou em devastadoras epidemias”, argumentou.

O chefe do Laboratório de Doenças Parasitárias do Instituto Oswaldo Cruz, José Rodrigues Coura  também criticou duramente a medida da UnB. “É um absurdo. Essa matéria trata das doenças prevalentes da pobreza. A medicina é uma profissão social e isso [a retirada da matéria da grade] é quase que um crime”, disse.

A Faculdade de Medicina da UnB, por sua vez, disse que a mudança faz parte de uma reforma curricular que pretende contemplar a interdisciplinaridade prevista nas últimas Diretrizes Curriculares Nacionais publicadas em junho de 2014. “Nesse sentido, várias disciplinas como Psiquiatria, Cardiologia e mesmo Doenças Infecciosas e Parasitárias terão seus conteúdos incorporados em disciplinas integradoras, como, por exemplo, Saúde do Adulto, Saúde da Criança e Adolescente etc”, explicou a coordenadora de Graduação da Faculdade de Medicina, Maria das Graças de Oliveira.

Questionada se a diluição da disciplina em outras não traria um déficit na formação dos futuros médicos, a coordenadora informou que não poderia responder ao questionamento antes do fechamento desta edição, devido ao grande fluxo de atividades na agenda acadêmica.

Diante do assunto tão polêmico, o especialista em Doenças Tropicais vai sugerir que o tema seja discutido na próxima assembleia da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), durante o seu 51 Congresso. “Não podemos aceitar vê-la reduzida a um papel secundário, diluída na Clínica Médica, onde o aluno não a terá como estudo obrigatório e constante, mas à sorte das circunstâncias” argumentou o Dr. Barberino.

Countries

Countries from the northern hemisphere are more concerned and involved with this issue than Brazil, where they occur endemically or in devastating epidemics

The way Brasilia University (UnB) has treated the Infectious and Parasitic Diseases has concerned the Brazilian medical society. Recently the institution put the subject in second place, removing it from the courses obligatory schedule.

According to Dr. João Barberino Santos, the Infectious and Parasitic diseases are the core of Tropical Medicine and since Brazil is one of the largest countries where these diseases prevail, it is important that the future doctors have an advanced formation on the theme.

We believe this subject must be obligatorily specifically studied with a course plan, program, workload and testing. The student must have contact with specific lectures and discussions with the professor at least in three moments. We cannot watch unmoved this gradual decrease of the subjects importance in the graduation of Brazils future physicians, he said.

The Infectious and Parasitic Diseases specialty focuses in problems as nosocomial infections, besides diseases caused by venomous animals as snakes and scorpions. This disease group is directly connected to poverty and lifestyle, including diseases related to life conditions, feeding and hygiene precarious conditions, so common in Brazil.

Still according to Dr. Barberino, the theme is studied in several first-world countries as the London Tropical Medicine and Hygiene Institute, the Tropical Institutes of Berlin, Munich, Heidelberg and Tubingen, among so many others. It is not possible that countries from the Northern hemisphere are more concerned about these diseases and giving them more attention than Brazil, where they occur endemically or in devastating epidemics, argued.

The head of the Oswaldo Cruz Institutes Parasitic Diseases Laboratory, José Rodrigues Coura also severely criticized the decision from the UnB. It is outrageous. This subject deals with poverty prevalent diseases. Medicine is a social profession and this [the removal of the subject from the courses schedule] is nearly a crime, he said.

The UnBs Medical School, on its turn, said the change is part of a curricula change that aims to contemplate the interdisciplinarity as prospected in the National Curricular Directives, published in July 2014. In this way, several subjects as Psychiatry, Cardiology and even Infectious and Parasitic Diseases will be absorbed by integrative subjects, for example, Adult Health, Child and Adolescent Health, explained the Graduation coordinator from the Medical School, Maria das Graças de Oliveira.

Asked if the dilution of the subject into others would be a deficit for the formation of future doctors, she claimed to not be able to answer before the closure of this article due to the lack of time due to academic schedules.

Facing such controversial theme, the Tropical Diseases expert will request to approach the matter in the next assembly of the Brazilian Society of Tropical Medicine, during its 51st Conference. We cannot accept to witness its reduction to a secondary role, diluted in Clinical Medicine, where the student will not have it as an obligatory and constant study, but left for the circumstances chance, argued Dr. Barberino.