Notícias

‘Vacina contra pobreza’ seria solução para América Latina, diz infectologista ‘Vaccine against poverty’ would be the solution for Latin America, says infectologist

Em entrevista, Dr. Ângelo Lindoso destaca formas para controlar as doenças tropicais na regiãoIn an interview, Dr. Angelo Lindoso highlights ways to control tropical diseases in the region

12/11/2014

Se

Se invertermos a situação, e houver redução da pobreza, provavelmente algumas das doenças tropicais poderiam ser controladas

A incidência de doenças tropicais nos países da América Latina poderia ser controlada a partir da redistribuição de renda associada à melhoria nas condições sanitárias e educacionais. Tal solução seria uma “vacina contra a pobreza”, afirmou o doutor em Alergia e Imunopatologia, Ângelo Lindoso , em entrevista à Sociedade Brasileira de Medicinal Tropical (SBMT). Confira, abaixo, o posicionamento do médico sobre a situação dos países latino-americanos a partir das enfermidades que colocam em risco cerca de 200 milhões de pessoas que vivem na região.

SBMT: As doenças tropicais atrapalham o desenvolvimento dos países da América Latina?

Dr. Ângelo: Certamente há uma relação intrínseca entre a ocorrência de doenças tropicais, principalmente as mais negligenciadas, e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), isto é quanto pior o Índice, maior o numero das doenças tropicais. Estas doenças podem ser causa do retardo no desenvolvimento do continente latino-americano, mas também podem ser uma consequência do subdesenvolvimento imposto ao longo dos anos por governos pouco comprometidos com população mais vulnerável. Algumas dessas doenças estão diretamente relacionadas à falta de investimento em melhoria nas condições sanitárias e, mais ainda, refletem a falta de aprimoramento da educação de base da população negligenciada. Certamente, as condições precárias de vida, em que a maioria da população sobrevive, oferecem um ambiente propício para o espraiamento das doenças tropicais. Porém, há enfermidades em que a Sociedade Civil como um todo, sem distinção de classe social ou financeira, contribui para a perpetuação dessas patologias.

SBMT: Eliminar ou controlar essas doenças possibilitariam quebrar o ciclo de pobreza e reduzir as desigualdades econômicas na região?

Dr. Ângelo: Creio que a melhor maneira de controlar as doenças tropicais, ou quebrar o elo de transmissão, é certamente melhorar as condições de vida de uma população vulnerável à ocorrência dessas doenças. Se invertermos a situação, e houver redução da pobreza, provavelmente algumas das doenças tropicais poderiam ser controladas. O caminho ideal para reverter esse quadro seria investir numa vacina contra pobreza. Ou seja, redistribuição de renda associada à melhoria nas condições sanitárias e educacionais.

SBMT: O Brasil está à frente em relação às pesquisas voltadas às doenças tropicais? Como o País pode contribuir para a produção de medicamentos e soluções em relação a essas doenças?

Dr. Ângelo: Certamente o Brasil é uma liderança na América Latina, em vários aspectos, sejam eles de cunho econômico ou de desenvolvimento de pesquisa na área de saúde. O País tem contribuído em muito na pesquisa de doenças tropicais, formando pesquisadores do continente, fazendo cooperação com diferentes países e estimulando a criação de redes de pesquisa integradas em doenças tropicais. Estudos multicêntricos em doenças tropicais, coordenados, por pesquisadores nacionais, resultaram em programas de controle de determinadas doenças. A produção de medicamentos já é uma realidade e um exemplo clássico é a produção de benzonidazol para o tratamento de doença de Chagas, produzido no Brasil e distribuído para tratamento da enfermidade na America Latina. No entanto, há necessidade de maior investimento público para pesquisa e desenvolvimento de fármacos para doenças tropicais.

Se considerarmos o arsenal terapêutico disponível para o tratamento das doenças negligenciadas, percebemos que muito deve ser feito. O Brasil, como liderança regional, tem papel crucial no estímulo à pesquisa para desenvolvimento de fármacos e também de plataformas de diagnóstico dessas doenças por preços acessíveis. Um dos grandes desafios é a criação de redes latino-americanas integradas para pesquisa em doenças tropicais.

SBMT: Quais medidas deveriam ser adotadas na América Latina, especialmente no Brasil, para melhorar o quadro atual em relação a essas doenças?

Dr. Ângelo: Muito tem sido feito, no âmbito de políticas públicas com a intensificação dos programas de controles. Apesar disso, as doenças tropicais estão em expansão: ou não tiveram redução da incidência, ou ainda apresentam aumento da letalidade. O Governo, em todas as suas esferas (Federal, Estadual e Municipal) tem papel importante, não só na adoção de medidas de controle, como também incentivar as pesquisas. Creio que a descoberta de novas estratégias de controle, a melhoria das condições sanitárias, o implemento de educação de base e a participação da sociedade conjuntamente é o que pode fazer a diferença. O paternalismo governamental não é salutar para o controle de doenças, pois a sociedade, conhecendo seus habitats, deveria ser uma voz ativa e participativa na implementação de medidas efetivas nesse sentido.

Certamente, o conhecimento regional deveria ser usado para implantação de medidas eficazes contra as doenças tropicais. Digo isto porque um programa federal que estabelece normas e condutas para a mesma doença, em um País tão continental como o Brasil, não levando em conta a regionalidade, pode dar certo em determinada região, porém pode não ser eficaz em outra. Aliado a tudo isso, a principal contribuição que o governo pode dar para o controle das doenças tropicais é aplicação da vacina contra pobreza.The incidence of tropical diseases in Latin American countries could be controlled from an income redistribution associated to sanitary and educational conditions improvements. Such solution would be a “

If

If we inverted the situation, and there were a reduction in poverty, probably some tropical diseases would be controlled

vaccine against poverty”, said the PhD in Allergy and Immunopathology, Angelo Lindoso , in an interview to the Brazilian Society of Tropical Medicine (BSTM). Find below, the doctor’s approach on the situation of Latin-American countries from the diseases that endanger over 200 million people living in the region.

BSTM: Do tropical diseases affect the development of Latin-American countries?

Dr. Angelo: Certainly, there is an intrinsic relation between tropical diseases, especially the most neglected, and the Human Development Index (HDI), in a way that the worse the Index, the greater is the number of tropical diseases. These diseases could be the cause of the Latin-American development setback, as well as a consequence of the underdevelopment imposed through the years by governments with little or no commitment with the most vulnerable populations. Some of these diseases are directly related to the lack of investment in sanitary conditions and, even more, they reflect the lack of improvement of the elementary education among the neglected populations. Surely, the precarious life conditions, in which most of the population lives, offers an environment prone to the spreading of tropical diseases. However, there are diseases that the Civil Society in a whole, regardless of social or income classes, contributes to the perpetuation of such pathologies.

BSTM: Eliminating or controlling these diseases would allow breaking the poverty cycle and reducing economical inequalities in the region?

Dr. Angelo: I believe the best way to control tropical diseases, or breaking the transmission link, is certainly to enhance the life condition of a population vulnerable to the occurrence of these diseases. If we invert the situation, and there is poverty reduction, probably some tropical diseases would be controlled. The ideal path to revert this picture would be investing in a vaccine against poverty. This means income redistribution associated to better sanitary and educational condition.

SBMT:  Is Brazil ahead of the researches in tropical diseases? How could the Country contribute to the production of drugs and solutions against these diseases?

Dr. Angelo: Brazil is surely a leader in Latin America, in several aspects, whether economic or development of health-related researches. The Country has strongly contributed in tropical diseases researches, forming researchers, cooperating with several countries and stimulating the creation of integrated research networks. Multi-center studies in tropical diseases, coordinated by national researchers, resulted in control programs of some diseases. The drug development is already a reality and a classic example is the production of benznidazole for the treatment of Chagas disease, produced in Brazil and distributed for treatment in Latin America. However, there is a need of greater public investment for the research and development of drugs against tropical diseases.

If we consider the therapeutic arsenal available for the treatment of neglected diseases, we perceive there is much to be done. Brazil, as a regional leader, has a crucial role to stimulate the research for development of drugs, as well as diagnostic platforms for these diseases at affordable prices. One of the great challenges is the creation of integrated Latin-American networks for tropical diseases research.

BSTM: Which measures should be adopted in Latin America, especially in Brazil, to improve the current framework regarding these diseases?

Dr. Angelo: Much has been done, within public policies though the strengthening of the control programs. Despite this, tropical diseases are expanding: either there was no reduction of the incidence, or there is still an increase in the lethality rate. The government in all its arms (Federal, State and Municipal) has an important role, not only applying control measures, but also encouraging researches. I believe the finding of new control strategies, enhancement of sanitary conditions, the implementation of basic education and the participation of the society together is what could make a difference. Governmental paternalism is not healthy for disease control, because the society, knowing its habitats, should be an active and participative voice implementing effective measures in this sense.

Certainly, regional knowledge should be used on the implementation of effective measures against tropical diseases. I say this because a federal program that establishes rules and conducts for the same disease, in a continental country as Brazil, not considering regional aspects, could work in some places but not in others. Along with all this, the main contribution the government could give to control tropical disease is the application of the vaccine against poverty.