WorldLeish 2017 pretende levar o impacto da doença na saúde pública e na pobreza ao público em geral
Durante quatro dias, os maiores especialistas mundiais vão trocar ideias, compartilhar avanços, descobertas, projetos e atualizar o status da doença no mundo a partir da perspectiva da ciência básica para a saúde pública
09/05/2017Tudo pronto para a sexta edição do maior Congresso mundial sobre leishmaniose, o WorldLeish 2017, que será realizado em Toledo, na Espanha. No total, foram submetidos quase 1500 trabalhos para apresentação como pôsteres ou apresentação oral. Mais de 80 países estão representados no programa científico e mais de mil delegados registrados. De acordo com o vice-presidente do evento, Dr. Javier Moreno, as atividades que estão em andamento e tiveram um grande impacto na comunidade de leishmaniacos são por um lado, a colaboração estabelecida com a prestigiada editora científica PLOS para produzir uma coleção específica de manuscritos sobre temas atuais na área, que já selecionou 30 artigos e outros estão em análise. Ele também enfatiza as atividades paralelas em Madrid, sendo dois fóruns principais de medicina e de disseminação do conhecimento científico. A Royal Academy of Medicine programou uma conferência sobre sessões de leishmaniose com painéis de especialistas reconhecidos mundialmente que será transmitida pelo canal de televisão Ibero-Americana.
O vice-presidente do evento destaca ainda a programação cultural. “A comissão organizadora preparou uma exposição de natureza informativa no Museu de História Natural, com o título ‘A leishmaniose afeta não só o seu animal de estimação’, que será acompanhada de oficinas e mesas redondas para crianças e adultos. O congresso prevê ainda uma programação cultural científica colocando o foco na história e na tradição musical da cidade. Haverá um concerto na Catedral organizado pelo Conservatório de Música de Toledo, que marca o ‘IV centenário de El Greco’, e uma exposição fotográfica sobre leishmaniose na Igreja de San Marcos”. Em relação ao programa científico, Dr. Javier explica que a ideia é ter uma conferência transversal em que se tratem todos os aspectos possíveis do parasita, desde os moleculares, epidemiológicos e os sociais mais gerais, sempre com foco principal no paciente. “O objetivo é alcançar uma melhoria decisiva em sua condição individual e em seu ambiente: tratamentos mais curtos e mais eficazes, melhor acesso ao medicamento, controle de reservatórios, vacinas, inseticidas e repelentes menos tóxicos, melhores medidas de gestão etc. Em resumo, queremos desenvolver medidas de controle que tenham um impacto direto sobre os pacientes e o seu ambiente”, completa.
Na opinião do Dr. Javier, que participou de diversos ensaios de vacinas contra a leishmaniose humana e canina e atualmente é investigador principal de vários projetos internacionais, o investimento em leishmaniose é pequeno e precisa aumentar. Para ele, essa falta de investimento é certamente uma responsabilidade direta dos governos que não entendem que a luta contra a enfermidade é uma prioridade que precisa ser mantida ao longo do tempo. “Quando eles compreenderem que é uma questão prioritária e adquirirem um compromisso, como, por exemplo, o programa de erradicação realizado na Índia, Bangladesh e Nepal, no Sul da Ásia, os resultados mostram que é possível reduzir a incidência da doença significativamente, como ocorre naquela área”, aponta. Segundo o especialista, a boa notícia é que, com o pequeno investimento que existe, já se dá passos importantes no desenvolvimento de medidas de controle mais eficaz, tais como tratamentos ou vacinas contra a leishmaniose combinados. “O interesse de organizações e fundações internacionais como OMS, DNDi, Gates, Melinda & Bill tem proporcionado o desenvolvimento destas medidas e dado um impulso decisivo que não existia anos atrás para controle”, reconhece. Contudo, ele não acredita que se tenha uma solução em breve e nem que esta solução seja para todos os tipos de leishmanioses, porém está convencido de que o caminho está certo e otimista de que sejam desenvolvidas novas e melhores medidas de controle que possam ser usadas para reduzir gradualmente a incidência da doença.
Dr. Javier explica que a leishmaniose é uma doença associada à pobreza, embora não exclusiva dos pobres, à falta de condições higiênicas e sanitárias adequadas. “Um bom exemplo que ilustra como ela é um indicador muito sensível às condições sanitárias de um país, é o aumento de casos que acontecem em conflitos armados, onde o colapso dos sistemas de cuidados primários ocorre. Isso se deu no Afeganistão e agora na Síria, lamenta. Outra observação importante é que o aquecimento global tem ajudado na expansão dos vetores para o norte da Europa e da América do Sul. “O aumento da temporada de transmissão do parasita é certamente um fator relevante e em breve devemos ter a ocorrência de casos autóctones de leishmaniose em áreas que se acredita livre da doença”, assinala. Para ele, o controle efetivo precisa de estratégia abrangente para prevenir a transmissão do parasita e o desenvolvimento da doença. “Com a sua propagação e o surgimento de novos fatores de risco se faz necessário combinar diagnóstico rápido, novos tratamentos mais eficazes, uso de mosquiteiros, controlo de reservatórios (com vacinas ou coleiras repelentes, por exemplo) e dos vetores”, finaliza.…